
Muito se ouve falar da companhia, mas poucos são os que realmente já conseguiram conferi-la de perto. Quem tem esse perfil, chega para assistir à turnê do Ballet de Cuba com várias expectativas: ver saltos explosivos, giros perfeitamente executados e muita energia em toda a ação. Quando as cortinas fecham, todas as histórias incríveis sobre bailarinos com super-habilidades acabam de se confirmar na frente dos olhos. É tudo verdade.
Numa época em que a dificuldade técnica na dança vem sendo banalizada com o intuito de impressionar juízes em festivais, ela chega aos palcos com outra cara. Deixa de ser exibicionismo para se apresentar como virtuosismo e, com isso, retoma a aura das obras do repertório clássico. Esse casamento entre técnica apurada e objeto artístico talvez só seja possível ali por ter conseguido agregar o mesmo valor humano e artístico de Alicia Alonso, a mestra que comanda a Companhia desde sua fundação em 1948.
Nossos olhos estão acostumados a encarar interpretações circenses e fracas de espírito. Por isso, ao ver “A Magia da Dança”, espetáculo que o grupo vem apresentando na turnê brasileira, nossos olhos brilham, não piscam e, por vezes, enchem d´água. A diferença é nítida e emociona desde Giselle, a primeira peça do programa. O segundo ato do famoso balé romântico ganhou uma nova interpretação e trouxe Willis realmente más e uma Giselle (Vingsay Valdés) extremamente sofrida, mas, ainda assim, apaixonada. Interessante perceber que não era só o rosto, mas todo o corpo, todo movimento que transmitia essa mensagem. Um ótimo início para a noite que apenas começa.

O ápice dessa festa de talentos acontece quando Yanela Piñera e Ernesto Méjica surgem no palco como Mercedes e Espada, anunciando uma cena de Dom Quixote. Talvez porque a latinidade inerente aos corpos deles entre em ebulição da famosa peça do espanhol Cervantes. A sensualidade e a força do povo cubano se mostram muito claras ali, potencializando os movimentos. Destaque para a belíssima interpretação dos toureiros do corpo de baile, outra coisa difícil de ver em terras brasileiras: talentosos rapazes reunidos em um número extremamente bem ensaiado.
Daí para a frente, toda a apresentação continua no mesmo nível elevadíssimo, com o segundo ato de O Lago dos Cisnes e Sinfonia de Gottschalk, coreografia na qual o balé clássico se mistura aos ritmos cubanos e deixa os bailarinos livres para sorrirem sem fim, como numa exaltação à alegria de dançar. Belo final para uma bela noite.

Além disso, fica sempre a vontade de ver as obras completas, com todas as nuances. Esse sim é realmente o teste artístico-mor. Mas fica para a próxima. Por enquanto, deu para sentir como é o jeito cubano de fazer balé (e se inspirar também!). O Ballet de Cuba tem apresentações agendadas para os dias 19 e 20 em Porto Alegre , 22 e 23 em Curitiba e no dia 26 de maio em Belo Horizonte. Aproveitem. Ninguém sabe quando ele virá novamente (e, principalmente, se a grandiosa lenda, Alicia Alonso, ainda estará viva para acompanhar o grupo – é emocionante vê-la agradecendo com seus pupilos).
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