quinta-feira, 18 de maio de 2006

Fotos e Vídeo do Ballet de Cuba

Se você não teve a oportunidade de ver de perto a turnê A Magia da Dança, do Ballet Nacional de Cuba, pode, ao menos, contentar-se com os "brindes" do blog. O álbum do flickr.com, na coluna da direita, está repleto de fotos da Companhia e, no link abaixo, você faz o download da impressionante bailarina Viegnsay Valdés e suas SEIS PIRUETAS NA PONTA após fazer 32 fouettés!!!!

Viegnsay Valdés faz os fouettés do Cisne Negro

Preste atenção na orientação de como puxar o arquivo: ao clicar no link acima, vai abrir uma outra janela. Quando isso acontecer, desça a barra de rolagem até encontrar a frase "DOWNLOAD THIS FILE". Daí, basta clicar em cima e esperar o download começar, ok?
O Jeito Cubano de Dançar

Dia 6 de maio, viajei de Fortaleza para Recife apenas para conferir o Ballet Nacional de Cuba. Valeu a pena!

Muito se ouve falar da companhia, mas poucos são os que realmente já conseguiram conferi-la de perto. Quem tem esse perfil, chega para assistir à turnê do Ballet de Cuba com várias expectativas: ver saltos explosivos, giros perfeitamente executados e muita energia em toda a ação. Quando as cortinas fecham, todas as histórias incríveis sobre bailarinos com super-habilidades acabam de se confirmar na frente dos olhos. É tudo verdade.
Numa época em que a dificuldade técnica na dança vem sendo banalizada com o intuito de impressionar juízes em festivais, ela chega aos palcos com outra cara. Deixa de ser exibicionismo para se apresentar como virtuosismo e, com isso, retoma a aura das obras do repertório clássico. Esse casamento entre técnica apurada e objeto artístico talvez só seja possível ali por ter conseguido agregar o mesmo valor humano e artístico de Alicia Alonso, a mestra que comanda a Companhia desde sua fundação em 1948.
Nossos olhos estão acostumados a encarar interpretações circenses e fracas de espírito. Por isso, ao ver “A Magia da Dança”, espetáculo que o grupo vem apresentando na turnê brasileira, nossos olhos brilham, não piscam e, por vezes, enchem d´água. A diferença é nítida e emociona desde Giselle, a primeira peça do programa. O segundo ato do famoso balé romântico ganhou uma nova interpretação e trouxe Willis realmente más e uma Giselle (Vingsay Valdés) extremamente sofrida, mas, ainda assim, apaixonada. Interessante perceber que não era só o rosto, mas todo o corpo, todo movimento que transmitia essa mensagem. Um ótimo início para a noite que apenas começa.
O espetáculo apresenta trechos de vários repertórios famosos: A Bela Adormecida, O Quebra-Nozes, Coppelia entre outros. Em cada cena, há sempre um pas-de-deux de referência na coreologia do balé, demonstrando a incrível habilidade dos bailarinos de mostrarem a desenvoltura a dois. Com o passar das peças, as apresentações crescem e parecem ficar ainda mais ricas.
O ápice dessa festa de talentos acontece quando Yanela Piñera e Ernesto Méjica surgem no palco como Mercedes e Espada, anunciando uma cena de Dom Quixote. Talvez porque a latinidade inerente aos corpos deles entre em ebulição da famosa peça do espanhol Cervantes. A sensualidade e a força do povo cubano se mostram muito claras ali, potencializando os movimentos. Destaque para a belíssima interpretação dos toureiros do corpo de baile, outra coisa difícil de ver em terras brasileiras: talentosos rapazes reunidos em um número extremamente bem ensaiado.
Daí para a frente, toda a apresentação continua no mesmo nível elevadíssimo, com o segundo ato de O Lago dos Cisnes e Sinfonia de Gottschalk, coreografia na qual o balé clássico se mistura aos ritmos cubanos e deixa os bailarinos livres para sorrirem sem fim, como numa exaltação à alegria de dançar. Belo final para uma bela noite.
Infelizmente, esse tipo de espetáculo - encenado como uma gala - tem inevitavelmente limitações. Vê-se pouco o trabalho do corpo de baile, ofuscado pelas estrelas que brilham nos pas-de-deux. Daí, as referências de qualidade acabam se voltando mais para aqueles que já são, naturalmente, os carros-chefe da casa, perdendo-se as referências de conjunto. Houve também a ausência da interpretação das variações (solos) de cada pas-de-deux – talvez para encurtar o programa, já bastante extenso. Os cenários - muito pobres - contrastavam com a riqueza de certos figurinos. Acabou ficando a dúvida: aqueles cenários são simples porque foram feitos para turnês ou todos os da Companhia são primários desse jeito por dificuldades financeiras em um país extremamente empobrecido?
Além disso, fica sempre a vontade de ver as obras completas, com todas as nuances. Esse sim é realmente o teste artístico-mor. Mas fica para a próxima. Por enquanto, deu para sentir como é o jeito cubano de fazer balé (e se inspirar também!). O Ballet de Cuba tem apresentações agendadas para os dias 19 e 20 em Porto Alegre, 22 e 23 em Curitiba e no dia 26 de maio em Belo Horizonte. Aproveitem. Ninguém sabe quando ele virá novamente (e, principalmente, se a grandiosa lenda, Alicia Alonso, ainda estará viva para acompanhar o grupo – é emocionante vê-la agradecendo com seus pupilos).

domingo, 7 de maio de 2006

Direto de Recife...

... me preparando para ver a apresentação do Ballet Nacional de Cuba. Altas expectativas. Alguém aí já viu? Depois posto meus comentários sobre o espetáculo! Até mais!

sábado, 6 de maio de 2006

Paquita - Vídeos

A cena do casamento de Paquita é um dos repertórios mais encenados por companhias em galas mundo afora. Neste trecho, a música é de Ludwig Minkus, o que pode nos fazer lembrar alguns trechos de Dom Quixote. Inclusive, muita gente enxerta alguns dos solos de Paquita quando resolve fazer montagens da obra de Cervantes. Para um leigo, acaba sendo difícil distinguir que aquela variação não faz parte de todo o conjunto. Você já assistiu ao corpo de baile deste balé? Gostaria de ver? Os links abaixo o levarão diretamente para os vídeos. É só esperar a nova página baixar e o vídeo também. Minha sugestão: logo quando a página carregar, procure o símbolo de PAUSE (aqueles dois tracinhos: II) no canto esquerdo da teliha do vídeo. Clique nele e só clique no PLAY (a setinha apontando pra direita) quando toda a faixa verde tiver sido completa. Essa faixa verde indica o progresso de download do vídeo. Quando ela vai de uma ponta a outra da telinha, significa que você vai poder assistir ao vídeo sem interrupção.
Então, siga a lista de links abaixo e passeie por trechos de um balé empolgante: Paquita!

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Paquita - Fotos

Na coluna da direita, você pode conferir algumas fotos do balé Paquita. Há cenas do balé completo e outras do famoso trecho encenado em variadas galas. Para ver todas as fotos, basta clicar em cima de alguma delas que você será redirecionado para o site de hospedagem. Espero que gostem!

Paquita - Libreto

Músico: Edouard-Marie-Ernest Delvedez e Ludwig Minkus
Libreto: Joseph Mazilier e Pierre Foucher
Coreografia: Pierre Lacotte, após a versão original de Joseph Mazilier e Marius Petipa.
Estréia: Paris, Teatro Imperial ( atual Ópera de Paris ) em 01/04/1846.
Bailado em dois atos e três cenas.

ATO I:

Cena 1: No entorno de Saragoza, cidade espanhola. O General de Hervilly inaugura um monumento em homenagem a seu irmão, que foi assassinado, em 1795. Acredita-se que sua mulher e sua filha também tenham sido mortas no mesmo episódio. Na celebração pelo monumento, o povo da cidade dança. O governador tenta aproximar sua filha de Lucien, filho do General. Chegam os ciganos, que se apresentam para os nobres. Entre eles, está Paquita e Inigo, o chefe dos ciganos. A jovem dança e troca olhares com Lucien. Ao final do número, Inigo manda Paquita passar o chapéu para recolher alguns trocados. No entanto, ela se mostra incomodada. Inigo ameaça bater-lhe e Lucien a protege. O cigano percebe o interesse dele pela moça e teme perdê-la, afinal ela é a cigana mais bonita, a que arrecada mais dinheiro quando dança. O governador também teme que o plano de casar o jovem com sua filha seja perturbado. Paquita e Lucien encontram-se a sós e ele pede a ela que fuja com ele. Ela, assustada, não aceita. Todos se retiram e Lucien diz que irá depois, porque os ciganos darão uma festa em sua homenagem. Enquanto isso, Inigo e o governador estão tramam a morte de Lucien, combinando usar Paquita para atraí-lo.

Cena 2: O Esconderijo de Inigo. Paquita está encantada com Lucien. Ela percebe a chegada do governador e se esconde. A jovem escuta a conversa dele com Inigo. Eles combinam de colocar veneno na bebida de Lucien, que deve chegar em breve, atraído por Paquita. Nervosa em seu esconderijo, ela faz barulho. Inigo a surpreende, mas ela o convence de que acaba de chegar ao local. Entra Lucien, que pede abrigo a Inigo. Paquita tenta avisá-lo, por sinais, de que corre perigo. Inigo pede que Paquita prepare a refeição. Daí, então, Lucien se dá conta do perigo. Durante o jantar, Paquita mostrará o que ele pode beber ou não. Ao chegar a bebida envenenada, Paquita derruba uns pratos e, na confusão, ela troca os copos. Logo depois, Inigo adormece. O casal foge para o palácio do General de Hervilly, pois os guardas do governador logo chegariam para matar Lucien.

ATO II:

Cena 3: O Palácio do General de Hervilly. Ao chegar no lugar, Paquita e Lucien contam o que o governador tramou com Inigo. O General manda prendê-lo. Lucien anuncia o desejo de casar com Paquita. Ela reluta e, ao se afastar de Lucien, percebe que o retrato do irmão falecido do General é o mesmo do camafeu que ela carrega desde criança. Paquita, então, entende ter sobrevivido ao ataque que matou seu pai, tendo sido tomada para ser criada com os ciganos. Feliz com o reencontro, o General manda celebrar o casamento de Lucien e Paquita.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Qual a origem de Carnaval em Veneza?

Esse famoso pas-de-deux, encenado frequentemente em galas e festivais, foi coreografado por Petipa sob a música de Pugni por volta de 1860. Muito se pergunta se a peça acabou sendo o único elemento restante de um balé completo que Petipa supostamente criara. Na verdade, não é. Carnaval em Veneza era encenado como parte de um vaudeville, ou seja, uma espécie de show de variedades que consistia em uma mescla de cantoria, dança, esquetes cômicas, atuação entre outros. Para unificar todos esses temas, haveria um tema comum, mas nada que possa determinar uma história concreta por trás das mímicas do pas-de-deux.

No entanto, com o passar do tempo, algo mudou em relação a essa coreografia. Ela foi enxertada num balé completo intitulado Le Diable Amoreaux, que retrata a história de um demônio em forma de mulher que se apaixona por um mortal. Supostamente, é por isso que o pas-de-deux também é conhecido, atualmente, por Satanella.

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Que ver o Thiago Soares dançando?

Clique no link abaixo e comece o download de um vídeo no qual Thiago Soares encarna Orion, o vilão do balé Sylvia, que ele encenou com Darcey Busell. Prestem atenção na interpretação dele e depois digam o que acharam!


Preste atenção na orientação de como puxar o arquivo: ao clicar no link acima, vai abrir uma outra janela. Quando isso acontecer, desça a barra de rolagem até encontrar a frase "DOWNLOAD THIS FILE". Daí, basta clicar em cima e esperar o download começar, ok?
A Biografia de Thiago Soares (Royal Ballet)

Aos 11 anos, Thiago Soares começou a dançar em um grupo de street dance, em Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro. Aos 15, procurou o Centro de Danças Rio para ter aulas de jazz. Queria se aperfeiçoar na dança de rua. Ao assisti-lo nas primeiras aulas, Débora Bastos, professora da escola, não teve dúvidas: ele tinha tudo para se tornar um grande bailarino clássico. Por isso, avisou que só o aceitaria como aluno se também fizesse balé. No entanto, ela teve que lidar com o preconceito do rapaz. Apresentou-lhe um vídeo com performances do bailarino Fernando Bujones. Thiago ficou maravilhado. Daí para frente, começou a batalhar e se apaixonou de vez por essa arte. Conheceu então Mariza Estrella e Angélica Fiorani, que acreditaram no potencial dele e o fizeram assumir a dança profissionalmente.

Foi essa decisão que determinou o sucesso meteórico de Soares. Em 1998, ele conquistou a medalha de prata no Concurso Internacional de Dança de Paris ao dançar os solos de Dom Quixote, O Lago dos Cisnes e O Corsário. Com a medalha, Thiago foi convidado a integrar a companhia Le Jeune Balle, da França, mas foi orientado a retornar ao Brasil para completar os estudos antes de partir mundo afora. Melhor para ele: de volta para casa, foi convidado a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Na ocasião, ele já tinha 18 anos.

Seu talento foi logo reconhecido e ele passou a receber também papéis de solista. No ano seguinte, já incorporava os papéis principais de balés como O Lago dos Cisnes, Giselle, Dom Quixote, Coppélia e La Bayadère. Em 2001, Roberta Marquez e ele participaram do Concurso Internacional de Moscou dançando os pas-de-deux do terceiro ato de La Bayadère, do Cisne Negro, Diana e Acteon. Thiago conquistou a cobiçada medalha de ouro. Marquez ficou com a de prata, o que o bailarino considerou injustiça. Os dois ainda receberam menção honrosa como melhor dueto com a coreografia Capricho, de Tíndaro Silvano.

A partir daí, a carreira internacional de Soares começou a decolar. Logo após o concurso, ele conseguiu um feito histórico: foi convidado pelo Kirov Ballet para integrar o seu quadro de aprendizes durante um ano. Em cem anos de história, ele foi o segundo bailarino estrangeiro a integrar a rígida companhia. O primeiro foi o cubano Jose Manuel Carreño, que hoje o American Ballet Theater. Durante o período, ele integrou a turnê do Ballet Público de Moscou.

Apesar de ter aceitado o convite, Thiago não agüentou muito tempo. Havia dificuldades com a língua e a cultura. Cinco meses depois, em 2002, ele retornou ao Brasil e encarnou o papel principal da versão de Romeu e Julieta montada por Vassiliev para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A partir daí, ele foi aconselhado a tentar uma audição para o Royal Ballet.

Naquele momento, a companhia precisava de bailarinos altos para acompanharem as bailarinas de mesma estatura. Deu para Thiago: após se apresentar para Monica Mason, a diretora artística do Royal, ele conseguiu um contrato para começar a atuar por lá a partir de setembro de 2002.

Demorou para que ele subisse ao palco. Quando o fez, eram papéis pequenos. Mas Thiago agarrava cada um deles com afinco, estudando todos os elementos necessários para fazer daquela parte a melhor possível. A grande oportunidade surgiu quando Natalia Makarova foi convocada para montar A Bela Adormecida para a companhia. A diva já conhecia o bailarino da época em que veio ao Brasil montar La Bayadère, e o colocou para interpretar Carabosse, a fada má. Era um papel dificílimo para alguém tão novo, mas não foi uma aposta errada. Thiago o desempenhou com sucesso e ainda ganhou a possibilidade de encenar o Príncipe Florimundo com a bailarina Tamara Rojo.

Dessa forma, pouco a pouco, ele foi conquistando seu espaço na companhia. Em 2004, foi promovido a primeiro-solista e começou a atuar frequentemente em papéis principais. Nesse mesmo ano, aos 22 de idade, recebeu o prêmio de artista revelação masculino de dança clássica, conferido pela Associação dos Críticos Internacionais de Dança, que o destacou como “detentor de uma técnica poderosa e refinada” e também um excelente ator, características responsáveis pela sua magnífica presença de palco. A interpretação do papel-título de Onegin, coreografado por John Cranko, parece ter sido a síntese ideal de todas as qualidades do bailarino para que ele recebesse o prêmio.

Hoje, Soares continua no Royal desempenhando papéis importantes com a mesma determinação do começo da carreira. Suas interpretações têm feito grande sucesso entre a sisuda crítica de dança britânica. Após uma apresentação do bailarino com Svetlana Zakharova, no Rio de Janeiro, Eliana Caminada comentou: “Como pode um rapaz de sua idade assumir tamanha responsabilidade, compreender tão bem como se comporta um bailarino nobre? Soares é nobre como figura, como interior e como qualidade de dança; nenhuma concessão aparece em sua técnica pura, na escola que denota sua iniciação bem feita.” São esses elementos, responsabilidade e profissionalismo, que fazem de Thiago Soares uma das maiores estrelas atuais da dança clássica brasileira. Que ele sirva de modelo e inspiração para tantos outros.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Saiu hoje no jornal O Povo (Fortaleza-CE) uma série de artigos interessantes sobre a dança neste Estado e um festival que está a ocorrer por lá. No entanto, as idéias contidas nesses textos estão para além dos eventos localizados na cidade e servem muito bem para refletirmos a questão das políticas públicas para a dança. Os quatro artigos estão republicados, aqui, na íntegra e, no título, cada um tem o link para o seu site de origem.

DANÇA CÊNICA

De hoje até domingo (25 a 30), os municípios de Itapipoca, Paracuru e Trairi abrigarão o "Festival de Dança Litoral Oeste". Manifestações artísticas como o Côco do Iguape e do Alagadiço, Reisado de Quiterianópolis, danças indígenas de comunidades de Itapipoca, além de trabalhos coreográficos da linguagem contemporânea do Brasil e da França farão parte do programa. Participarão artistas do Ceará, de outros estados brasileiros e do exterior. A iniciativa faz parte das comemorações dos 40 anos da Secretaria de Cultura do EStado do Ceará (Secult), a mais antiga do gênero no Brasil.
Arte e Política

Falar de mobilização para quem faz arte, considerando a situação atual em que vivemos, nos leva a refletir que fazer política é algo muito difícil, mas infelizmente cada vez mais necessário

Andréa Bardawil

O evento ''I Festival de Dança Litoral Oeste'' marca mais um momento singular na trajetória da mobilização e do desenvolvimento da dança cearense. Além das outras importantes iniciativas acontecidas nos últimos anos em Fortaleza, é interessante citarmos a participação dos profissionais do Estado no processo de mobilização nacional, sobretudo na Câmara Setorial de Dança, ajudando a decidir os rumos de uma política cultural efetiva para a dança no Brasil.

Tal processo de mobilização reforça que uma política cultural efetiva não se consolida em poucos anos, nem muito menos com iniciativas espaçadas e pontuais. Deixa claro também que a consistência e continuidade das iniciativas de qualquer gestão pública dependem fundamentalmente da participação ativa e ininterrupta das instâncias representativas dos diversos interesses fomentados, sejam eles delimitados por instituições, linguagens, grupos ou artistas.

A complexidade da área da gestão cultural - espaço de atuação recente, que nos cobra, a todos, o aprendizado de novas funções - parece nos exigir a cada dia referenciais mais alargados. Teoria e prática chocam-se constantemente, nos desafiando numa velocidade vertiginosa - que é radicalmente oposta à velocidade arrastada da máquina pública - a criar novas condições de possibilidade que, não raro, acabam no vácuo.

Falar de mobilização para quem faz arte, considerando a situação atual em que vivemos, nos leva a refletir que fazer política é algo muito difícil, mas infelizmente cada vez mais necessário. Ocupar espaços, definir recursos, interferir nas leis, conquistar garantias, tudo isso é fazer política.

Fazer arte, por sua vez, deveria ser habitar o espaço mesmo da invenção, da reconfiguração do mundo, da elaboração de outros territórios do sensível e do possível. Arte e política, muitas vezes, em meio a tanta inversão de valores, parecem se opor. Não deveriam. Pois que tudo não se trata de investirmos em melhores formas de estarmos no mundo?

A questão que se faz problema para mim, no meio de tantas, é como continuar fazendo política e não deixar de fazer arte. Tal questão ganha novas nuances, quando me defronto com iniciativas silenciosamente gestadas ao longo de anos, graças ao idealismo e a persistência quase romântica de alguns, na maior parte do tempo longe dos holofotes oficiais. É o que vem acontecendo já há alguns anos na Região do Vale do Curu, e hoje culmina neste Festival.

Lembro agora de Ítalo Calvino, que nos conta que ''tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba bem cedo se revelando de um peso insustentável. Apenas, talvez a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam à condenação''.

No habitar entre a política e a arte, como escapar? Ou melhor: como abrir espaço para o que escapa de tudo o que já está capturado e atrofiado, territórios, possíveis e valores? Há entre a política e a arte um espaço possível de ser habitado, reconfigurado, reinventado, um espaço não paralisado, onde caiba o movimento? Podemos criá-lo? Como respirar, sem no entanto deixarmos de nos mover, onde se faça necessário? Importante nos provocarmos tais questões.

Para que possamos acreditar num Deus que saiba dançar, como Nietzsche gostaria.

ANDRÉA BARDAWIL é coreógrafa
A vocação artística do Litoral Leste

O Festival de Dança Litoral Oeste foi concebido de forma compartilhada, objetivando contemplar as diversas necessidades dos distintos contextos nos quais se insere

Cláudia Leitão

A dança cênica cearense tem experimentado nos últimos dez anos um processo de desenvolvimento e projeção sem precedentes em sua história. A articulação de ações sinérgicas - como a Bienal de Dança do Ceará, o Colégio de Dança, o Festival Nacional de Dança de Fortaleza (Fendafor), a criação da Prodança e do Fórum de Dança do Ceará - teve papel central na configuração desse novo cenário.

Se, por um lado, o resultado dessas ações pôde transparecer predominantemente na capital, em outras regiões do Ceará iniciativas singulares e reverberações das ações acima mencionadas ajudaram a constituir cenários diferenciados.

Fundados em contextos distintos daqueles da cidade de Fortaleza, projetos localizados em outros municípios do Estado foram tomando forma, força e consistência, até serem incorporados por coletividades. Tal vocação artística se comprovou na prática no Litoral Oeste do Estado, mais especificamente na região do Vale do Curu. No local, formou-se uma sólida rede intermunicipal de agentes culturais, trabalhando conjuntamente em prol de uma linguagem artística - a dança.

A força e a qualidade dessas iniciativas, assim como o pioneirismo e o empreendedorismo de seus protagonistas, foram fatores decisivos para a visibilidade e o conseqüente reconhecimento do trabalho realizado pela dança na região. E foi percebendo a vocação para essa linguagem artística, assim como a demanda legítima da região por ações que potencializassem o desenvolvimento da dança e servissem como plataforma de apoio para as atividades ali desenvolvidas, que a Secretaria da Cultura do Estado (Secult) elegeu o Vale do Curu para sediar mais um Evento Estruturante dentro de sua política de Valorização das Culturas Regionais.

Das manifestações tradicionais à dança contemporânea, as cidades de Paracuru, Trairi e Itapipoca, localizadas no Litoral Oeste, vão mostrar ao público as diferentes texturas corporais e linhas de pensamento que têm inspirado o trabalho de artistas e companhias locais, nordestinas, brasileiras e até mesmo do exterior. De 25 a 30 de abril, os três municípios sediarão espetáculos, oficinas, residências, mostra de vídeos, palestras e conversas com profissionais na programação do Festival de Dança Litoral Oeste.

Fazendo jus ao caráter coletivo das ações que deram origem a essa demanda, o Festival de Dança Litoral Oeste foi concebido de forma compartilhada, objetivando contemplar as diversas necessidades dos distintos contextos nos quais se insere. Dessa forma, toda a programação artística e pedagógica foi formatada de maneira a atender expectativas e características não só dos municípios sede do evento, mas também da região e do Ceará de forma geral. Dos mestres das danças tradicionais populares do Ceará a importantes nomes da dança cênica nacional e internacional, o Festival pretende ser um espaço de convergência entre dança e público de distintos contextos. O mesmo se pode dizer das oficinas, que foram formatadas de acordo com a solicitação de cada cidade. As palestras e os debates discutirão questões de ordem estética e política, sejam elas de alcance local, nacional ou internacional, relativas à dança cênica e aos profissionais que atuam na área.

O Festival de Dança Litoral Oeste apresenta-se, portanto, como mais um Evento Estruturante da Secult, que tem o objetivo de dotar as macrorregiões do Ceará de uma estrutura de desenvolvimento cultural local, contribuindo com o aprimoramento das linguagens artísticas, com a organização do setor produtivo cultural e com a geração de oportunidade de negócios direta ou indiretamente associados à arte e à cultura. Atualmente, já são dez os eventos estruturantes realizados ou apoiados pela Secult em todo o Estado, como o Festival Música da Ibiapaba, Encontro Mestres do Mundo - no Vale do Jaguaribe, e o Festival dos Inhamuns - Circo Bonecos e Artes de Rua, dentre outros. O Festival integra também a programação dos 40 anos da Secult, a primeira Secretaria de Cultura do Brasil.

CLÁUDIA LEITÃO é secretária da Cultura do Estado do Ceará.
A militância da dança no Vale do Curu

A princípio o trabalho com a dança em nossa região, especificamente o trabalho desenvolvido pela Cia Ballet Baião em Itapipoca, sofreu preconceito e não acolhimento do público

Gerson Carlos

A trajetória dos grupos e companhias de dança de nossa região teve seu início na década de noventa, dentro das organizações populares articuladas pelas pastorais sociais da Diocese de Itapipoca.

Com a criação do Marca (Movimento de Artistas da Caminhada) idealizado por Zé Vicente e Babi Fonteles, foi possível integrarmos diversos grupos de artistas das áreas de música, artes plásticas, teatro e dança em um só movimento. Nesse bojo surgiu em Itapipoca a Aarti (Associação de Artes Cênicas de Itapipoca) e dentro dela a Cia de Dança Contemporânea Ballet Baião, que acabou se tornando a primeira referência de Dança Cênica para as demais cidades do Litoral Oeste.

Através do Aconchegão de Arte-Vida (Encontro Anual dos Artistas e Produtores do Vale do Curu) a Cia Ballet Baião começou a expor seus espetáculos e ministrar oficinas de dança que por conseqüência geraram novos grupos (núcleos de dança) em muitas cidades, destacando Trairi, Uruburetama, Paraipaba, Amontada, São Gonçalo do Amarante, Itarema, Tejuçuoca, Itapajé, Miraíma, dentre outras.

A princípio o trabalho com a dança em nossa região, especificamente o trabalho desenvolvido pela Cia Ballet Baião em Itapipoca, sofreu preconceito e não acolhimento do público. Por conta da persistência dos bailarinos se conquistou pouco a pouco espaço e apoio da sociedade Itapipoquense, tanto para a exposição e produção dos espetáculos da cia, como também para o favorecimento do ensino e vivência da dança contemporânea dentro de projetos socais que contemplam crianças e adolescentes dos bairros periféricos de Itapipoca, tais como o AABB comunidade (Banco do Brasil e Prefeitura Municipal), Projeto Arteculando (Secretaria de Educação), ABC Padrão e Pólo de Atendimento (Ação Social), Acafi e Soprafi (Fundo Cristão para crianças e adolescentes). Outro campo que tende a se expandir é a Escola Pública, cada vez mais aberta para formação de grupos de dança via projetos pedagógicos locais, ou via projetos financiados pelo governo estadual e federal.

Atualmente, os componentes do Ballet Baião além de terem formação técnica em dança, são também formados em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), e desenvolvem paralelamente aos espetáculos da companhia, trabalhos voluntários focando o ensino da dança como via de inclusão e construção da cidadania. Hoje temos uma Escola de Dança que acompanha 50 adolescentes dos bairros da cidade com aulas semanais de dança contemporânea, dança moderna, balé clássico, danças tradicionais populares, teatro, criação literária, artes plásticas e temas transversais são discutidos através de palestras e vídeos educativos.

Gostaríamos de poder ampliar essa escola, porém são muitas as carências que dificultam essa possibilidade. Estamos ''correndo atrás'' elaborando projetos e enviando para empresas a fim de qualificar esse trabalho no que diz respeito à estrutura física e material didático. Nosso grande anseio é de conseguir um terreno para construirmos uma sede própria.

O I Festival de Dança Litoral Oeste, além de ser espaço favorável para a mostra das produções de dança local, estadual, nacional e internacional (intercâmbio que vai quebrar fronteiras), também garantirá a discussão de políticas para a dança do Ceará, pensando que mostras e festivais são eventos importantíssimos para a categoria, mas que é preciso fomentar estratégias de ação permanente no intuito de que os grupos e companhias de dança sobrevivam com dignidade, circulando com seus espetáculos e ampliando seus projetos sociais, tanto na capital como no interior cearense.

GERSON CARLOS MATIAS DE SOUZA é bailarino, coreógrafo, professor de dança, pedagogo, arte-educador e Diretor Artístico da Associação de Artes Cênicas de Itapipoca (Aarti).
Dançando na Rota do Sol

É possível notar indícios de modificação no cenário da dança cearense: criação de editais, exposições, mostras e festivais e aumento no número de companhias e de organizações de classe

Júlia Cândida

Ventos, jangadas, velas brancas sobre o verde do mar nos levam, nos próximos dias, ao Litoral Oeste cearense, pois eventos e mostras de dança em Fortaleza já não são suficientes para responder às produções de nosso Estado.

O Colégio de Dança, um dos muitos frutos da Bienal Internacional de Dança do Ceará, pode ser visto como ponto de partida por delinear um complexo painel de mudanças e descobertas nos corpos dançantes locais.

Buscar a compreensão da produção na área de dança no interior cearense é direcionar-se às motivações que desencadearam essas transformações. Certamente foram muitas.

Há bem pouco tempo, as referências de grupos ou companhias estavam centradas em Fortaleza, exceto os grupos voltados à cultura popular, que através das tradições e lendas conseguiram se manter nesses espaços que tanto valorizam essas manifestações.

Retrato da era da tecnologia e da comunicação, a dança cênica cearense apresenta-se hoje com uma dinâmica marcada por algumas alterações.

A linha divisória entre o que foi conservado e alterado é confusa, mas permite uma análise comparativa. Continua a condição dominada no cenário nacional, mas, algumas ações possibilitaram conquistas de uma política cultural para a dança, proporcionando aumento de produção e circulação. É possível notar indícios de modificação no cenário da dança cearense: criação de editais, exposições, mostras e festivais e aumento no número de companhias e de organizações de classe. Mudanças de políticas públicas culturais podem ter contribuído para que as ações da Secretaria de Cultura do Ceará se estendessem a várias regiões do Estado, democratizando o acesso aos recursos do fundo estadual de cultura.

Tais mudanças têm incitado o interesse em fomentar o exercício reflexivo para a criação de uma consciência crítica sobre a necessidade de ampliação dos conhecimentos da dança para além de sua prática. Após esforços de bailarinos, coreógrafos e professores, hoje, existe no Estado do Ceará um curso de formação técnica em dança, que veio preencher a lacuna deixada pelo Colégio de Dança.

Também o surgimento da Cia. de Dança de Paracuru, por iniciativa e direção de Flávio Sampaio, que há mais de cinco anos pesquisa, monta e circula dança, deve ter servido de referência a tantos outros grupos de cidades circunvizinhas.

Não só o litoral foi contagiado pela dança. O sertão também teve sua participação. Sem desmerecer as outras cidades cearenses, os municípios de Paracuru, Trairi, Itapipoca, Beberibe, Tabuleiro do Norte, Uruburetama, Paraipaba e Guaramiranga têm hoje um novo olhar para a dança, transformação ocasionada em função da atuação de suas companhias.

Com abertura em Fortaleza, ocorrida ontem, o Festival de Dança do Litoral Oeste acontece no interior do Estado a partir de hoje, indo até o dia 30 de abril trabalhando diversas linguagens e com extensa programação: oficinas de dança, mostras de vídeos mesas redondas e espetáculos.

Além de oportunizar diversos nomes da dança cearense, o Festival terá participação de grandes personalidades: Paulo Caldas (bailarino e coreógrafo da Staccato Companhia de Dança), Steven Harper (coreógrafo americano), Julie Nioche (coreógrafa francesa) e Leonel Brum (pesquisador e diretor artístico dos eventos Dança Brasil e Dança em Foco).

JÚLIA CÂNDIDA SOARES MENEZES é professora e pesquisadora

sábado, 22 de abril de 2006

Sylvia - Curiosidades

- Sylvia foi o balé que inaugurou as apresentações de dança no recém-construído Palais Garnier, até hoje a casa principal do Paris Opera Ballet. A primeira versão foi um fiasco. Foram necessárias sete produções nas décadas seguintes até que uma vigorasse. No caso, a de Ashton, de 1952.

- Rita Sangalli foi a escolhida para interpretar o papel título na produção de 1876. Ela tinha 27 anos e era primeira-bailarina da companhia. No entanto, cometeu-se um enorme erro: ela foi a única que ensaiou a coreografia do papel principal. Por isso, a temporada de Sylvia teve que ser suspensa quando ela machucou o pé.

- Ao invés de adaptar a coreografia para a música de Delibes, Mérante fez com que o compositor reescrevesse várias vezes a mesma peça musical para se encaixar aos seus passos. Pior para o coreógrafo: o único traço remanescente da produção original de 1876 foi exatamente a música de Delibes.

- Ashton dizia que havia decidido resgatar Sylvia porque Delibes havia feito o pedido para ele durante um sonho. Eita lombra!
- A primeira bailarina a interpretar o papel-título na remontagem foi Margot Fonteyn. Em homenagem a ela, Ashton deu bastante ênfase à coreografia da personagem.
- Somente em 2004 a peça foi apresentada pela primeira vez nos Estados Unidos pelo San Francisco Ballet. Nessa remontagem, o coreógrafo Mark Morris tentou ser fiel à obra original de Mérante, já que a música estava intrinsecamente ligada a esses passos. No mesmo ano, a obra de Ashton foi reconstruída para o Royal Ballet.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Sylvia - Vídeo do pas-de-deux

Aproveitando o feriado (e o tempo extra na frente do computador), que tal ver um vídeo do balé Sylvia? O trecho apresentado é o pas-de-deux do terceiro ato, quando Sylvia reencontra Aminta. Mesmo durante o tempo em que o repertório completo desapareceu das companhias, esse trecho continuou a ser apresentado em galas. A interpretação é de Darcey Bussell (sempre linda e maravilhosa) e Roberto Bole, bailarino do Teatro Scala de Milão. Os dois repetiram a parceria recentemente dançando Manon na Itália. Cliquem no link abaixo e divirtam-se! Depois digam nos comentários o que acharam! =)

Pas-de-deux de Sylvia

INSTRUÇÕES PARA O DOWNLOAD: O vídeo está em outro servidor. Quando você clicar no link, vai abrir outra janela. Desça a barra de rolagem até o meio da página e clique na palavra FREE. Uma nova página abrirá. Mais uma vez, desça a barra de rolagem e espere a contagem regressiva. Digite o código de segurança fornecido e dê o ok para começar o download.
Sylvia - Libreto

“Um jovem ama uma garota; a garota é capturada por um vilão; a garota volta para o jovem por intercessão de um deus”. Foi assim que Sir Frederick Ashton definiu o libreto do balé Sylvia, que ele coreografou em 1952. Conheça agora a história dessa "nova" peça de repertório, que, muito em breve, já deve constar nos catálogos de DVDs de dança mundo afora (a única versão, até agora, é francesa e tem outra coreografia).

Ato I: Uma floresta sagrada
As criaturas da floresta dançam em adoração a Eros, o deus do amor. O ritual é interrompido com a chegada de Aminta, um pastor que está apaixonado por Sylvia. Ao ouvir a aproximação dela e de suas amigas, ele se esconde para vê-las dançar e celebrar o sucesso da caçada. Elas também zombam da estátua de Eros, pois, como ninfas da deusa Diana, renunciaram ao amor. As caçadoras encontram a capa de Aminta e descobrem o pastor, que anuncia seu amor por Sylvia. Enfurecida, ela culpa Eros pelo ocorrido e aponta o arco na direção dele. Ao tentar proteger a estátua, Aminta é ferido pela flecha. Em contrapartida, Eros também atinge Sylvia. Abalada, ela remove a flecha de seu coração e recolhe-se com suas companheiras.

Orion, um caçador, também estava espreitando Sylvia e fica contente ao perceber que Aminta, seu rival, está inconsciente. Ele se esconde quando a caçadora retorna. Dessa vez, ela é simpática ao pastor e teme a sua morte. Num momento de distração, ela é seqüestrada por Orion, que a leva embora. Chegam os camponeses, que descobrem o corpo de Aminta. Disfarçado, Eros ressuscita o pastor e o informa do paradeiro de Sylvia.

Ato II: A Caverna de Orion
Orion tenta seduzir Sylvia com jóias e vinho, mas não tem sucesso. Ela ainda está pesarosa por Aminta; a flecha com a qual foi atingida a lembra o tempo inteiro de seu amor por ele. Tentando chamar a atenção de Sylvia, Orion rouba a flecha. Para retomá-la, a caçadora embriaga o vilão com vinho. Com isso, ela apela por ajuda a Eros, que aparece e, numa visão, mostra que Aminta está esperando por ela no Templo de Diana, para onde os dois se dirigem.

Ato III: A praia próxima ao Templo de Diana
Aminta chega ao templo durante um bacanal. Logo, Sylvia aparece com Eros e os dois dançam celebrando o amor. Orion aparece e procura pela caçadora. Ele luta com Aminta. Desesperada, Sylvia tenta se proteger dentro do santuário de Diana. Orion tenta fazer o mesmo, mas a deusa da caça aparece e, enraivecida com a violação de seu templo, atinge Orion e impede a união de Aminta e Sylvia. Para tentar ajudar o casal, Eros faz surgir uma visão de Acteon, o primeiro amor de Diana, que também era um pastor. Com isso, ela muda de idéia e permite o enlace. Sylvia e Aminta podem agora ficar juntos sob a benção das suas divindades.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Balé da Semana: Sylvia, com fotos

Nos próximos dias, vamos falar do balé Sylvia, coreografado em 1952 por Frederick Ashton para o Royal Ballet e remontado recentemente, em 1994, pela mesma companhia. É, talvez, um dos mais bonitos balés de repertório modernos. A coreografia é bastante rica e a remontagem conta com cenários e figurinos lindíssimos. Para que você possa ver isso, montamos um novo álbum no Flickr. Basta clicar numa das fotos da coluna da direita para entrar no álbum do balé. Aproveite. Amanhã, mais novidades sobre Sylvia!

quarta-feira, 19 de abril de 2006

E por falar em salto...

O que vocês acharam do artigo abaixo sobre como os saltos funcionam em nosso corpo? Que tal vê-los na prática? Hoje, com vocês, a variação masculina do Pas-de-trois de O Lago dos Cisnes, interpretado pelo American Ballet Theater:


Preste atenção na orientação de como puxar o arquivo: ao clicar no link acima, vai abrir uma outra janela. Quando isso acontecer, desça a barra de rolagem até encontrar a frase "DOWNLOAD THIS FILE". Daí, basta clicar em cima e esperar o download começar, ok?
O que está por trás de um bom salto

No balé, a capacidade de saltar é uma das habilidades que pode definir um grande bailarino: pense em Darcey Bussell, Carlos Acosta, Sylvia Guillem, Alina Cojocaru e tantos outros mais. O esforço deles nos ensaios ajuda a proporcionar graça, elegância e controle aos saltos. No entanto, o que determina principalmente a qualidade dessa habilidade é a genética. Saltar requer uma combinação entre os tipos certos de músculo, tendões e formas dos pés, além de um bom equilíbrio proporcional entre o peso do corpo e a força dele.

Isso é que é genética boa! (na foto, Maria Alexandrova)

Aproximadamente 15% do resultado de um salto tem origem nos ligamentos do arco do pé, que atua como um elástico – eles alongam quando o joelho dobra e contraem quando o bailarino toma o ar.

Outro percentual: 35% do salto vem dos tendões do calcanhar e da perna, mais especificamente o tendão de aquiles, que armazena uma grande força enquanto é alongado na preparação para um salto. A quantidade de plié possível com o tendão é que determina a força da explosão no ar. Lembre-se que os tendões têm um potencial elástico maior que os músculos, então quanto mais forte e alongado eles estiverem, mais alto será o salto. Preste atenção na panturrilha de qualquer corredor ou de um bailarino que salta pra valer: todos eles têm um tendão de aquiles longo e tão bem trabalhado que transparece pela pele.

O restante da força de um salto depende em 55 % dos músculos da perna.

Os músculos são constituídos por dois tipos de fibras: as de contração rápida e as de contração lenta. A fibras musculares rápidas contraem velozmente e com bastante força. Com isso, são excelentes para potencializar ações como saltar ou correr. As fibras lentas são mais irrigadas; portanto, úteis para a resistência e o fortalecimento de certos movimentos, como corridas de longa distância. Todos nós nascemos com uma determinada proporção de fibras lentas e de fibras rápidas. Ela não pode ser alterada com treinamento. Todos os corredores velozes e os bailarinos que saltam mais alto têm um número elevado de fibras musculares rápidas.

Como já foi dito, para saltar alto, um bailarino deve caprichar no plié. O alongamento do plié atua no salto como uma faixa de elástico. Quando mais ela é esticada, maior a força com a qual ela ricocheteia quando solta. Do mesmo modo é com o salto.<

A aterrissagem de um salto faz com que os tendões e músculos alonguem ainda mais, um elemento que pode potencializar muito o salto seguinte. Esse é o motivo para os bailarinos fazerem um salto pequeno antes de um grande (como um glissade antes de um jeté). O timing também é importante. Nunca se vai conseguir ter um salto impressionante se o plié de impulsão é demorado. Apesar de profundo, ele precisa ser rápido para provocar agilidade no salto.

Apesar dos principais atributos para um salto perfeito dependerem da genética, os bailarinos podem ainda tentar melhorar sua técnica para saltarem ainda mais alto. Exercícios com pesos podem fortalecer os músculos e ampliar a sua força. Além disso, há outras atividades destinadas a melhorar a capacidade de contração deles. O peso do corpo é outro fator determinante: bailarinos esbeltos e, ainda assim, musculosos conseguem os melhores saltos.

Mesmo que você não tenha sido um dos favorecidos pela natureza para o salto, ainda dá para impressionar os outros. Se as pernas não são tão boas, capriche na imposição da cabeça e no alongamento dos braços durante o salto. Esse truque dá uma sensação de imponência e presença do palco que enriquecem a apresentação. Além disso, a maior parte da platéia leiga presta muito mais atenção nos movimentos do tronco do que nos das pernas. Mas não vá usar isso como pretexto para relaxar nas aulas, hein?

Texto traduzido e adaptado do programa de TV The Dancer´s Body, produzido pela BBC de Londres. O artigo original pode ser encontrado no link http://www.bbc.co.uk/music/dancersbody/body/jumping.shtml

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Vídeo - La Bayadère

Hm... A segunda-feira amanheceu com preguiça aqui em Fortaleza. Muita chuva e pouca vontade de sair de casa. Com isso, nada melhor do que um bom vídeo para nos entreter. Segue, abaixo, o link para que vocês possam fazer o download de um trecho de La Bayadère. A cena em questão mostra o corpo de baile do Reino das Sombras, segundo ato do balé. A sincronia perfeita do movimento das 32 sombras é belíssima. A interpretação é pelo Paris Opera Ballet. O vídeo tem 10,9 MB. Apreciem e digam o que acharam!


Preste atenção na orientação de como puxar o arquivo: ao clicar no link acima, vai abrir uma outra janela. Quando isso acontecer, desça a barra de rolagem até encontrar a frase "DOWNLOAD THIS FILE". Daí, basta clicar em cima e esperar o download começar, ok?
Morri de chorar vendo esse espetáculo tão lindo. Recomendo demais! Saiu no Correio do Brasil.

Ballet Stagium dança
Chico Buarque

O grupo profissional de dança do Ballet Stagium segue a turnê de 2006 com o espetáculo Stagium dança Chico Buarque. No dia 19 de abril, a companhia se apresenta no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. Com idéia e coreografia de Décio Otero e direção teatral de Marika Gidali, a obra conta com trilha sonora de Chico Buarque de Hollanda, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Francis Hime e Edu Lobo.

O espetáculo situa-se num depósito de material cênico, com manequins, praticáveis, restos de cenários, araras com figurinos, bicicletas, móveis, andaimes de construção e tábuas, concebidos por Márcio Tadeu. A voz de Paulo Autran narra trecho do poema E agora José?, de Carlos Drummond de Andrade.

Entre as músicas executadas estão Eu te amo, Valsinha, O que Será, A história de Lily Braun, Morena de Angola, Trocando em Miúdos, Roda Viva, Beatriz, Partido Alto e Na Carreira, interpretadas por Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Nacha Guevara, Leila Pinheiro e Telma Costa.

O Ballet Stagium tem o patrocínio da Petrobras Distribuidora, por meio da Lei Rouanet - Ministério da Cultura, com foco nos projetos sócio-culturais e o apoio do Instituto Camargo Corrêa, que permitem à companhia dar continuidade à filosofia que sempre norteou seu trabalho desde a fundação, em 1971. Importante ressaltar que, a partir de 2004, a dança a serviço da Educação ampliou suas atividades, oficializando uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.

Correio do Brasil

domingo, 16 de abril de 2006

Feliz Páscoa com o Pas Paysant

Para comemorar esse dia, um vídeo direto no site para vocês. O pas-de-deux camponês do Ballet Giselle, aqui interpretado pelo Ballet Bolshoi. Aliás, nesse site http://www.youtube.com há vários vídeos disponíveis! Basta fazer uma procura e pronto. O bom é que os vídeos baixam até rápido. Minha sugestão para a visualização: assim que a janela aparecer, clique no PAUSE situado no canto esquerdo. Espere uns cinco minutos e clique no PLAY; assim, dificilmente haverá pausas na transmissão. Para isso, basta clicar no link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=NXitcpIJh2I

Aproveite e feliz Páscoa!
Piruetas x Pas-de-deux

Dançar um pas-de-deux já não é algo lá muito fácil. Mais complicado fica quando a coreografia exige algumas famigeradas "piruetas de dedinho", ou seja, quando se é necessário girar segurando a mão do partner. Não é à toa que os pas-de-deux que a exigem geralmente são destinados a bailarinas mais experientes, mais conscientes de seu próprio corpo e de suas capacidades. Afinal, é preciso muita força e concentração, além da colaboração do partner, para executá-las com perfeição. Logo abaixo segue uma lista de dicas pra tentar aprimorar a técnica dessa passo tão difícil (e tão bonito):

1. O dedo de apoio do partner deve ser sempre o indicador. Geralmente é o direito, porque geralmente as piruetas vão nesse sentido, o que talvez dificulte um pouco para os canhotos. O dedo deve ser mantido constantemente para baixo e nunca para o lado.

2. Com a mão direita, o partner deve fazer um esforço para manter a mão levantada da bailarina bem no centro da cabeça dela ou, no máximo, um pouco mais à frente disso. Se a mão pender para um lado ou para o outro, a bailarina perde o seu eixo de gravidade (e pode machucar seriamente a mão do partner).

3. A bailarina deve cuidar para não apertar demais o dedo do partner, pois esse gesto trava o giro perfeito. Afinal, é com o dedo que o partner ajuda a bailarina a continuar no eixo e dar o “empurrãozinho” final para completar aquela pirueta que não conseguiu sair apenas com o impulso próprio.

4. Deve-se ter cuidado para manter a postura sempre muito correta desde a preparação da pirueta. Nada de tentar pegar impulso com o ombro direito. Isso afeta a linha perfeita corpo e também compromete o eixo do giro. O abdômen deve estar bem preso, ajudando na firmeza do corpo.

5. O partner deve manter uma distância razoável da sua mão e da mão da bailarina da cabeça dela. Se as duas mãos ficam muito próximas à cabeça, a moça pode ter dificuldades em estabilizar o corpo.

6. Ponto importante: o que fazer com a mão esquerda? Ela desempenha um importante papel para o impulso da pirueta assim como a perna direita. É preciso empurrar para trás a mão do partner que, nessa hora, pode forçar levemente a mão para a frente de forma a dar um apoio maior à bailarina.

7. Agora é a hora de girar. A bailarina empurra a mão do partner até o momento em que a perna direita faz o ronde jambe até a segunda posição e ela fica en face. Só aí é que ela recolhe a perna num passé e pode continuar o giro. Enquanto isso, o braço esquerdo fecha rapidamente uma primeira posição. Se a bailarina não levar a perna inteiramente até à segunda posição, é bem possível que o passé fique feio, en dedans e comprometa também o giro. Se a bailarina levar até à segunda, mas demorar para fechar, bem... Algum acidente vai acontecer (o que a gente não deseja pra ninguém!).

8. Uma lembrança óbvia, mas suuuuper básica: a bailarina não pode confiar a manutenção do seu eixo ao partner. Ele pode ajudar muito, mas não é Deus para salvar uma pirueta “relaxada”. Então, nada de esquecer de marcar bem a cabeça durante o giro.

9. Esse é o tipo da pirueta que sai melhor quando o número de giros já está predefinido nos ensaios. Como ela é difícil, é a prática que vai determinar a quantidade possível e, assim, a força de impulso necessária para a bailarina executá-la. O partner pode ajudar no arremate final, segurando a mão esquerda dela quando já estiver ralentando o giro. Ela também pode dar um sinal de que deseja diminuir o ritmo, comprimindo levemente o dedo de base do partner.

Quem leu essa lista de dicas e nunca fez pirueta de dedinho deve imaginar como é difícil. São muitos pontos a serem relembrados em um curtíssimo espaço de tempo. Dessa forma, o que vai determinar do sucesso é, realmente, muita prática. Por isso, boa sorte!

sábado, 15 de abril de 2006

A Filha do Faraó - Comentários

A primeira vez em que eu ouvi falar desse balé foi em fotologs que mostravam as fotos da belíssima Svetlana Zhakarova dançando o papel-título. Eu pensava que quem postava estava mal informado! Como uma balé tão grandioso conseguiu se perder no tempo desse jeito? Mesmo com a lógica do meu argumento, eu realmente estava enganada...

No ano 2000, tentaram reparar o erro e, a pedidos do Ballet Bolshoi, A Filha do Faraó foi remontado pelo coreógrafo francês Pierre Lacotte, que aparentemente se especializou em "ressuscitar" balés (ele fez esse mesmo trabalho com Paquita e La Sylphide no Paris Opera Ballet). A partir da notação deixada por Petipa, ele reconstruiu a coreografia. No entanto, a maior parte do que se vê hoje no palco não faz parte do trabalho original de 1862 do maître de balé. Apenas as variações dos rios, no segundo ato, mantiveram-se intactas. Todo o resto sofreu a intervenção de Lacotte, que cortou muitas das cenas de mímica responsáveis pela longa duração do espetáculo.

Em 2003, A Filha do Faraó foi finalmente levado aos palcos do Ballet Bolshoi 141 anos após sua estréia no Ballet Kirov. Acho que a suntuosidade é a principal marca dessa nova produção. Há variadas trocas de cenários, muitíssimos figurantes e um guarda-roupa invejável para a personagem Aspicia, que troca de figurino umas seis, sete vezes durante todo o espetáculo. O enredo é bobinho e, em alguns momentos, lembra de leve La Bayadère, mas está longe de ter a densidade dramática deste. A música influi muito para isso. O compositor Cesar Pugni (também autor das melodias de La Esmeralda e Diana e Acteon) não tem a genialidade de Minkus. Este carrega em sua partitura toda a emoção das cenas. O mesmo não acontece com a de Pugni. Com isso, as cenas parecem puro pastiche.

No entanto, talvez A Filha do Faraó deva ser visto com outros olhos. Ao invés da dramaticidade, priorizou-se as coreografias, ricas e bem montadas para cada cena do enredo. Lacotte caprichou nesse aspecto. Tanto é que, provavelmente em breve, essas variações devam começar a pipocar em festivais de dança de todo o país, demonstrando virtuosidade e novidade nesses espaços.

Curiosidades

A Filha do Faraó fez grande sucesso na Rússia pelo menos até cinqüenta anos depois de sua estréia em 1862. Foi um dos primeiros balés de repertório de Petipa. No entanto, apesar disso, ele foi retirado dos repertórios por determinação do governo soviético, que, aparentemente, não gostava de um subtema do balé: o poder autocrático dos faraós.

A encenação conta com algumas participações pitorescas, como a de um macaco e de uma cobra gigante. Quando George Balanchine ainda estudava na escola do Teatro Mariinsky, ele foi o responsável pela interpretação do macaquinho. É um exemplo de que todos nós realmente temos que pagar algum mico até chegar um pouco mais lá em cima... =)


sexta-feira, 14 de abril de 2006

A Filha do Faraó - Vídeo

Continuando com a série de posts sobre o balé de repertório "A Filha do Faraó", disponibilizamos hoje um vídeo que mostra um trecho da cena da caçada. Quem dança o papel de Aspicia é Maria Alexandrova. A coreografia é muito legal; a música fica um pouquinho para trás... Mas a Alexandrova é linda dançando e vale a pena. Basta clicar no link abaixo com o botão direito do mouse e selecionar "Salvar destino como" ou "Save as" para começar o download.
Originalmente, esse vídeo se encontra no link http://m-alex-video.narod.ru/.

http://m-alex-video.narod.ru/MA_Pharaoh05.mpg

Amanhã, coloco aqui comentários e curiosidades a respeito do balé!

quinta-feira, 13 de abril de 2006

A Filha do Faraó - Fotos

Montei um álbum de fotos desse balé no www.flickr.com. Por lá, fica mais fácil de acessá-las. Para chegar no álbum, desça a barra de rolagem do blog e veja as fotos encontradas na coluna da direita. Daí, basta clicar em cima e apreciar.
As fotos fizeram parte da divulgação da turnê do Bolshoi nos Estados Unidos em 2005.
Tem muita coisa linda! Atentem para os suntosos cenários da produção. Outra coisa bacana é ver as belas Zhakarova e Alexandrova, que se revezam no papel de Aspicia, a Filha do Faraó.
A Filha do Faraó - Libreto

Hoje e amanhã, vamos falar do balé de repertório "A Filha do Faraó", criado em 1862 por Petipa para o Kirov de então. Foi um de seus primeiros balés, mas, com o tempo, ele ficou esquecido. Em 2000, Pierre Lacotte decidiu remontá-lo e o Bolshoi foi a casa que recebeu a nova coreografia. Neste post, apresentamos o libreto do balé dividido por atos. Mais tarde e amanhã, posto aqui comentários curiosos sobre a produção, fotos e vídeos desse novo repertório que promete muito em breve invadir os festivais de dança com novas variações! Curtam a história por enquanto:

ATO I:

Cena 1: Lorde Wilson é um arqueólogo inglês. Numa expedição ao Egito, ele e seu serviçal, John Bull, são convidados para visitarem a tenda de alguns mercadores. No entanto, o local é atingido por uma tempestade de areia e, subitamente, os dois amigos se vêem no interior de uma pirâmide. Abalado, Lorde Wilson fuma ópio e adormece. Eis que, de repente, surge uma princesa egípcia, Aspicia. Ela transforma os exploradores ingleses também em egípcios. Lorde Wilson e John Bull são, agora, Ta-Hor e Passiphonte.

Cena 2: Na floresta, Aspicia acompanha seus servos em uma caçada. Ela é atacada por um leão e Ta-Hor a salva. Os dois se apaixonam. Neste momento, o Faraó aparece e manda prenderem o jovem por abraçar sua filha.

Cena 3: De volta ao templo, o Faraó faz um acordo para casar Aspicia com o Rei da Núbia mesmo contra a vontade da filha. Durante a cerimônia, Ta-Hor se liberta e salva a moça do matrimônio indesejado. Os dois fogem. O Faraó e o Rei vão atrás de capturar a noiva fugitiva e o amante dela.


ATO II:

Cena 4: Ta-Hor e Aspicia escondem-se em uma cabana de pescadores à beira do Rio Nilo. Ele sai para pescar com os outros moradores e deixa Aspicia sozinha. Ela é, então, surpreendida pelo Rei da Núbia, que a ameaça caso não retorne para o reino com ele. Sem pensar duas vezes, a jovem mergulha no rio, deixando claro que prefere morrer a casar-se com ele. Quando Ta-Hor e Passiphonte voltam à cabana, o Rei os captura.

Cena 5: Aspicia chega ao fundo do mar, lugar de confluência de vários rios que dançam para ela. Ela também encontra o Deus do Nilo, que a permite voltar à terra para encontrar o seu amado.


ATO III:

Os pescadores encontram a princesa na beira do rio, justo quando Ta-Hor está prestes a ser condenado à morte sob a acusação de ter provocado a morte de Aspicia. A jovem culpa o Rei da Núbia por sua tentativa de suicídio e implora a seu pai para que Ta-Hor seja libertado. Ao ter o pedido negado, ela tenta se suicidar mais uma vez. Para impedir o feito, o Faraó volta atrás e finalmente abençoa a união do casal.

Neste momento, Lorde Wilson acorda ao lado do sarcófago de Aspicia e percebe que todas as emoções vividas no Egito Antigo não passaram de um sonho.

quarta-feira, 12 de abril de 2006

Novo filme de dança a caminho!


Take the Lead é o título da mais nova produção cinematográfica de dança da Fox. O filme estreou na última sexta-feira (dia 7) nos Estados Unidos e já se encontra em terceiro lugar nas bilheterias, arrecadando R$ 12, milhões apenas no primeio fim-de-semana em cartaz. O enredo é inspirado na história real de Pierre Dulane (interpretado por Antonio Banderas), um ex-bailarino que agora se encarrega de ensinar dança de salão em uma escola pública de Nova York. No entanto, ele sofre a resistência e o preconceito dos alunos, que preferem o hip hop. Juntos eles vão ponderar as diferenças e criar um novo estilo de dança.

Dessa forma, a produção parece construir-se como mais um filme-clichê de dança ou de professores carismáticos com "profundas" lições de moral. Mas não podemos julgá-lo pelo trailer, não é mesmo? Quem sabe o título surpreende. Pelo menos, temos certeza de que haverá cenas de dança (e, geralmente, elas pagam o filme para nós bailarinas e bailarinos!).

No Brasil, o longa vai se chamar Vem Dançar e deve estrear no dia 2 de junho. Até lá, fiquei com o trailer! Para puxar, clique no link abaixo com o botão direito do mouse e selecione "Salvar destino como" ou "Save as".

CLIQUE AQUI E PUXE O TRAILER DO FILME

domingo, 9 de abril de 2006

Dança e Cinema

"Não deveria haver revolução sem dança"

- V, personagem-título de V de Vingança, filme atualmente em cartaz nos cinemas de todo o país.
Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

sábado, 8 de abril de 2006

Para quem está em São Paulo...

Balé da Cidade de São Paulo estréia Constanze no Municipal

Coreografia de Mario Nascimento para o Balé da Cidade é um avanço na trajetória da companhia
por Helena Katz
Constanze, coreografada para o Balé da Cidade de São Paulo


SÃO PAULO - A estréia de Constanze, coreografada por Mario Nascimento para o Balé da Cidade de São Paulo, em cartaz no Teatro Municipal até domingo, aconteceu dentro de um tipo de programação que agregou a Cia. 2, espalhada por vários espaços do teatro, às 20 horas, em Fragmentos Mozartianos, com direção de Fabio Mazzoni; o Corpo de Baile Jovem, que abriu a noite na sala principal, dançando Anlage, de Flávio Lima; e a Orquestra Sinfônica Municipal, em dia de estréia de seu novo regente, José Maria Florêncio.

Comecemos pela relação música-dança. Tocar para uma companhia de dança/dançar com orquestra ao vivo pede por um expertise bem mais complexo do que simplesmente reunir dois corpos estáveis no mesmo espaço, para que cada um realize o que sabe fazer sem o outro. Será louvável, caso não se configure como um arroubo administrativo e sim, como um projeto de gestão.

Faz-se mesmo necessário inventar modos da Cia. 2 se relacionar com seus colegas de elenco do Balé da Cidade. Ter eleito a ocupação espacial do teatro como um parâmetro resultou em uma boa experiência. Todavia, o mesmo não vale para a acomodação que foi feita entre profissionais (as duas cias. do Balé da Cidade) e não-profissionais (os alunos da Escola Municipal de Bailados).
O Corpo de Baile Jovem pede por uma moldura adequada para que suas conquistas possam ser apreciadas - que não pode ser reduzida à coabitação no espaço dos profissionais. Como há grupos semelhantes espalhados por todo o País, a questão merece ser enfrentada por esse coletivo.

Todos precisam de oportunidade para consolidar a sua dança, mas será preciso propor estratégias adequadas para a difusão desse tipo de trabalho - afinal, bem importante para o desenvolvimento da dança profissional.

Quanto à Constanze, representa um avanço e tanto na trajetória do Balé da Cidade. Em primeiro lugar, por ser a primeira das duas coreografias que Mário Nascimento está criando nesse semestre para a companhia (a próxima, Onde Está o Norte?, estréia em junho). Essa nova proposta da direção merece ser celebrada, pois o fato de um mesmo coreógrafo poder permanecer tantos meses ensaiando com o elenco rompe com o mecanismo nefasto da coreografia-delivery que vinha se transformando em hábito (aquele onde o coreógrafo estrangeiro chega, fica uns poucos dias, monta a sua obra, e volta depois, na época da estréia, para limpar a obra).

A direção acerta também quando escolhe Mario Nascimento para propor esse outro modo da companhia funcionar. Não somente porque Nascimento é hoje, no Brasil, um dos profissionais mais talentosos, mas sobretudo porque a movimentação que vem construindo promove rearranjos muito bem-vindos no corpo do elenco do Balé da Cidade.

Em Constanze, cada uma das 13 bailarinas, a seu modo, zela para que sua movimentação não continue servindo a velhos hábitos. Já se nota, na dança que estão mostrando, a presença de um certo frescor no modo de articular e desarticular. O movimento escorre, tropeça, soluça, desvia, desloca, volta pro eixo e o abandona. O corpo desenha esquinas e curvas, praças e becos.

Como se trata de uma peça encomendada pela direção do Teatro Municipal para seu ano Mozart (1756-1791), Constanze, que usa a Sinfonia nº 41, antecedida por uma leitura da Lacrimosa (do Réquiem) por Fabio Cardia, funciona com um aperitivo para o que deve vir por aí com Onde Está o Norte?. A habilidade em começar a construir esse outro entendimento de dança, que o elenco, dedicado e competente, já consegue delinear, nesse caso funciona também como um bom avalista do atual projeto de Mônica Mion, a diretora do Balé da Cidade.

Constanze e Anlage. Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, 3222-8698. Hoje e amanhã, 21h; dom., 17h. R$ 10 a R$ 15

Estadão Online

... e para quem está em Curitiba.

Balé Guaíra apresenta "Caixa de Cores" e "Pequeno mundo"

O Balé Teatro Guaíra faz duas apresentações neste fim de semana, no Guairão. No programa as coreografias "Caixa de Cores", de Luiz Fernando Bongiovanni, e "Pequeno Mundo" (Werschwindend Kleine Welt), do alemão Felix Landerer. As apresentações acontecem neste sábado (8) e no domingo (9).

Os dois coreógrafos foram convidados, no ano passado, pelo Centro Cultural Teatro Guaíra, para preparar estes dois trabalhos que estrearam em setembro de 2005.Bongiovanni usou, para "Caixa de Cores" a essência do trabalho do físico Isaac Newton. O coreógrafo fala que o aspecto físico, como o comprimento de onda, de uma determinada cor acaba associando-a a um estado de espírito. Já o coreógrafo alemão, bailarino do Teatro de Hanover, fez no Balé Teatro Guaíra, o seu primeiro trabalho fora da Alemanha.

A pesquisa de Landerer trilhou os sentimentos que surgem quando uma pessoa perde a memória, seja por doença degenerativa, idade ou acidente. Com o nome de Werschwindend Kleine Welt (Pequeno Mundo), a coreografia aborda o começo deste processo, quando as pessoas ainda têm lucidez sobre os fatos.

Serviço: "Caixa de Cores" e "Pequeno Mundo". Sábado (8) às 20h30 e domingo (9) às 18 horas. Teatro Guaíra (Praça Santos Andrade, s/nº) Tel.: 3304-7900. R$ 10,00.

Gazeta do Povo Online

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Vídeo - Pas-de-deux da Fada Açucarada

Não sei se vou conseguir postar mais hoje, por isso deixo com vocês um link valiosíssimo para o download de uma belíssima peça coreográfica: o pas-de-deux da Fada Açucarada dançado pelo Ballet Béjart. A versão completa da companhia para O Quebra-Nozes é toda revisitada no estilo do coreógrafo, mas, logo antes desse pas-de-deux, entra um dos bailarinos para dizer que o Béjart não quis mexer na coreografia original de Petipa, considerada uma obra-prima.
O arquivo é meio grande (mais de 20MB), mas vale a pena. É muuuuito bem dançado.

http://rapidshare.de/files/17076234/Fairy_pas-de-deux.avi.html

INSTRUÇÕES PARA O DOWNLOAD: O vídeo está em outro servidor. Quando você clicar no link, vai abrir outra janela. Desça a barra de rolagem até o meio da página e clique na palavra FREE. Uma nova página abrirá. Mais uma vez, desça a barra de rolagem e espere a contagem regressiva. Digite o código de segurança fornecido e dê o ok para começar o download.

quinta-feira, 6 de abril de 2006



Como dissolver as arestas de um quadrado

Em Coreografismos, a carioca Staccato Cia. de Dança se propõe a explorar os limites do corpo que dança e surpreende ao organizar, a partir de pouco, um inventário de movimentos muito mais complexo do que se poderia imaginar


Até onde nosso corpo pode chegar? Naturalmente limitado pela sua determinação física, ele tende a conformar suas possibilidades nos movimentos do cotidiano. Mas, para algumas pessoas, ele exige mais; quer ver o que acontece consigo próprio se conseguir ir além. Na obra Coreografismos, apresentada no último fim-de-semana no teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a Staccato Cia. de Dança se propõe exatamente a isso. Nela, cinco bailarinos do grupo carioca têm o espaço de um quadrado projetado no chão para experimentarem o máximo de possibilidades de movimentos buscando preenchê-lo totalmente. Nesse processo, surpreende o fato de eles conseguirem desenvolver os gestos a um ponto tal em que o espaço cênico deixa de ser o quadrado em questão para se tornar os próprios corpos deles.

Tudo se torna ainda mais atraente quando os bailarinos começam a interagir, experimentando as possibilidades de uma nova limitação: além do que já foi feito sobre o espaço definido, quantas novas combinações de movimento podem ser criadas quando dois ou três corpos se unem apenas por uma das mãos? O resultado explode qualquer baixa expectativa. A partir daí, por mais que se tente, não há como pensar que há verdadeiramente elementos delimitando a ação. A riqueza gestual parece infinita e cresce aos olhos do espectador, instigando-o a investigar os seus próprios limites.

Na coreografia, a descoberta de que o corpo consegue superar a sua determinação física se dá pouco a pouco, captaneada pelo esforço dos bailarinos em conseguir uma boa qualidade do fluxo de movimento. A concentração deles em cada pequeno gesto encadeado é tanta que parece impossível não ser magnetizado por aquilo. Tanto é que se torna difícil refazer na mente os caminhos do corpo cênico até uma determinada configuração.

Assim como em Outro Tango, criada em 2002 em parceria com os launos Colégio de Dança do Ceará, o coreógrafo Paulo Caldas escolhe uma trilha encabeçada por instrumentos de cordas. Talvez porque o som contínuo do violino inspire o fluxo constante de movimentos desejado, sejam eles lentos ou ágeis. Vale lembrar que o princípio norteador desses gestos está baseado na circularidade, uma das marcas mais expressivas do trabalho de Caldas.

Tanto na obra de 2002 quanto em Coreografismos, fica claro que esses dois elementos – o fluxo contínuo e a circularidade – são intrínsecos à existência um do outro. O coreógrafo os utiliza como ponte para alcançar uma verdadeira liberdade do corpo, que flui com muito mais naturalidade no desenrolar de movimentos circulares e continuados do que em gestos fragmentados. Para ele, a quebra da fluidez parece quebrar também qualquer real intenção de levar um corpo além do seu cotidiano.

Coreografismos estreou no Rio de Janeiro em 2004 e foi apontado como um dos melhores espetáculos de dança desse ano pelo jornal O Globo. O sucesso do trabalho de Paulo Caldas já despontava desde antes. Em 2001, a conceituada revista alemã Ballet International Tanz Aktuell o aclamou como um “notável jovem coreógrafo”, o que o levou a se apresentar, no ano seguinte, na Bienal de Dança de Lyon, na França. A apresentação da coreografia no Dragão do Mar fez parte da quarta e última etapa do projeto Centro em Movimento, que trouxe a Fortaleza outros nomes expoentes da dança contemporânea nacional.
Começando o dia com música...

Quando fui ao Festival de Joinville, em 2003, vi, pela primeira vez, o Grand Pas Classique completo. Era na categoria "Grand Pas de Deux Avançado", talvez sempre uma das mais esperadas. Para mim, essa apresentação (não lembro quem eram os bailarinos) merecia o primeiro prêmio com certeza. A bailarina era forte e, ao mesmo tempo, graciosa enquanto o bailarino destilava todo o seu virtuosismo. Acontece que, num salto, ele escorregou e caiu de bunda no chão =( Acho que eles perderam o prêmio aí, o que é uma grande pena... Teimo em acreditar que a culpa não era dele.

Toda essa ladainha é só para apresentar a vocês a Variação Feminina do Grand Pas Classique! A música é muito engraçadinha, mas não se deixem enganar: é uma variação que exige bastante força da bailarina! Que o diga quem já fez aqueles milhões de relevés! É bom que você pega o arquivo e começa a treinar desde já =P

Preste atenção na orientação de como puxar o arquivo: ao clicar no link acima, vai abrir uma outra janela. Quando isso acontecer, desça a barra de rolagem até encontrar a frase "DOWNLOAD THIS FILE". Daí, basta clicar em cima e esperar o download começar, ok?

Mais tarde eu volto para postar mais novidades!

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Ela não pára não!

Em matéria publicada ontem no jornal O Globo, Ana Botafogo dá detalhes sobre sua participação em Páginas da Vida, próxima novela das oito. Ela fala como está se preparando para o papel e como vai ficar a carreira de bailarina durante as gravações. A reportagem também celebra os 25 anos de carreira de Ana, que vão ser comemorados com a apresentação de Três Momentos de Amor no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Confira a matéria na íntegra no link:

http://oglobo.globo.com/jornal/bairros/centro/246681543.asp
Entrevista com Alicia Alonso

A mais novas edição da Revista BRAVO! traz uma entrevista exclusiva com a cubana Alicia Alonso, grande dama do balé internacional. No final de abril, ela chega ao Brasil com a sua companhia, o Balé Nacional de Cuba, para iniciar a série de apresentações que configuram a turnê do grupo pelo país. Vale a pena conferir o que essa mestra tão experiente tem a dizer! A última frase da entrevista é marcante; eu não poderia concordar mais...

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http://www.bravoonline.com.br/noticias.php?id=1854

TEATRO E DANÇA
A MESTRA DOS PALCOS
Leia a íntegra da entrevista com a diretora artística do Balé Nacional de Cuba, Alicia Alonso

Por Fabiana Acosta Antunes

O Balé Nacional de Cuba inicia em São Paulo a turnê brasileira de A Magia da Dança, com cenas de obras do repertório clássico e romântico do balé, coreografadas por Alicia Alonso, de 85 anos, uma das grandes artistas da história da dança. Apesar dos problemas de visão e locomoção, Alicia continua dirigindo a companhia, que fundou em 1948. Ela falou com exclusividade a BRAVO!.


BRAVO!: A senhora criou um método próprio de ensino do balé, que deu origem a um modo cubano de dançar o repertório clássico. Em que consiste?
Alicia Alonso: Você se refere à escola cubana de balé, que não é somente uma metodologia no ensino e no treinamento dos bailarinos, mas uma projeção cênica e uma maneira de usar a técnica e de interpretar os estilos própria dos bailarinos cubanos. Baseia-se na técnica clássica em sua expressão mais pura, aplicada ao físico e à estética dos cubanos.

O florescimento do Balé Nacional de Cuba se deu com sua estatização por Fidel Castro, em 1959. A aliança do governo cubano com a então União Soviética permitiu colaborações de mestres do Bolshoi e do Kirov. Em que esse intercâmbio foi determinante para o Balé Nacional de Cuba?

Este é um erro freqüente de quem não conhece bem a história do balé em nosso país. Fundei o Balé Nacional de Cuba em 1948 (então com o nome de Ballet Alicia Alonso), e a Escuela Nacional de Ballet Alicia Alonso, em 1950. O balé em Cuba surgiu, deu seus primeiros passos e alcançou prestígio sem ligação nenhuma com os soviéticos. Pessoalmente, me formei em Cuba e nos Estados Unidos com mestres da antiga escola russa, da escola italiana e com relações próximas com as escolas inglesa e dinamarquesa. Dancei pela primeira vez nos grandes teatros soviéticos em 1957, quando já era uma figura da dança internacional. Desde o começo, para o desenvolvimento do balé em nosso país, tratamos de buscar um caminho próprio, mas dentro da grande tradição. Recebemos total apoio do governo revolucionário (a partir de 1959) e isso sim foi determinante para um maior crescimento do Balé de Cuba. Isso não exclui, desde cedo, nossas magníficas relações com o balé russo, os intercâmbios mútuos — enriquecedores para ambos — e a grande amizade que tivemos e ainda temos com grandes artistas daquele país.

Como mestra de várias gerações, que diferenças a senhora vê entre os bailarinos do início do Balé Nacional de Cuba e o elenco atual?

A técnica avançou muito. Ao contrário do que às vezes se crê, o balé é uma arte que evolui, pois a força teatral se adapta às épocas. Os bailarinos agora têm mais virtuosismo e, por isso, cuidamos para que não percam a expressão.

Há bailarinos que se destacam como grandes intérpretes, porém, não chegam a coreografar. A partir de quando a senhora sentiu necessidade de atuar como coreógrafa?

Desde muito cedo me senti atraída pela composição coreográfica, posso dizer que desde que era aluna em uma escola de balé. No início de minha carreira como bailarina já estreei várias coreografias próprias e esta atividade me acompanhou sempre. Quando deixei de dançar, minha criação coreográfica se intensificou, pois pude concentrar-me mais no aspecto do trabalho artístico.

Em sua trajetória como intérprete, há algum papel que a marcou mais?

Dentro do repertório clássico, Giselle é sem dúvida uma obra próxima de minha pessoa. Mas isso não tira a importância de outros grandes personagens que também interpretei como Odette-Odile, no Lago dos Cisnes; Swanilda, de Coppélia; Lisette, de La Fille Mal Gardée, e tantos outros. Sem esquecer meu trabalho em outras obras criadas dentro de uma linguagem moderna, como Carmem, Jocasta, Julieta, etc.

Suas versões coreográficas dos clássicos são célebres e fazem parte do repertório de grandes companhias. Como se mantém a vitalidade dessas companhias em tempos em que a dança dialoga com outras linguagens?

Os grandes clássicos são obras mestras, que transcendem todas as épocas. São um patrimônio cultural da humanidade. Porém, temos de mantê-los frescos, o que não significa trair sua essência. Acentuar a pureza dos estilos, obter uma lógica dramatúrgica e apresentar essas peças com respeito e imaginação. Se tais princípios são respeitados, a vitalidade deste legado está garantida.

O que a inspira quando inicia a criação de uma coreografia? Há colaboração dos bailarinos ou a senhora prefere criar sem interferência direta do elenco?

Depende de cada obra. Às vezes, a fonte de inspiração é a música, outras, um personagem ou o tema. Sempre é importante a personalidade, o talento e a entrega dos bailarinos com os quais se trabalha. Eles podem ser um grande apoio e ajudar no processo criativo.

Como coreógrafa, professora e diretora artística do Balé Nacional de Cuba, qual(is) a(s) característica(s) que mais preza em um bailarino, seja ele clássico ou não?

Idoneidade física, vocação, musicalidade, talento expressivo, cultura técnica e teatral. Poderia enumerar outras características desejáveis no bailarino, porém, antes de tudo, um grande amor pela dança.

Poderia falar um pouco sobre A Magia da Dança, espetáculo apresentado nesta turnê?

A Magia da Dança é um grande espetáculo, que representa uma antologia de cenas extraídas de famosas obras do repertório clássico e romântico do balé. É a oportunidade de ver, em uma só noite, uma mostra brilhante de diferentes modalidades estilísticas, presentes no repertório clássico. Ele é todo interpretado com grande rigor por todas as estrelas da companhia e seu corpo de baile. Não é comum encontrar em um só espetáculo tal riqueza de estilos e de bailarinos importantes.

A senhora parou de dançar aos 75 anos. Sente falta do palco?

A dança é o que de mais importante aconteceu em minha vida. Sair de cena é como começar a viver em outra realidade. Porém, sigo dançando em minhas coreografias e nos jovens bailarinos aos quais transmito minhas experiências. Quando se foi bailarino, não se deixa nunca de dançar. Se você não o faz fisicamente, se expressa de outra forma: pode-se até dançar com o pensamento.