segunda-feira, 14 de julho de 2008

Balé Bolshoi apresenta clássico sobre Revolução Francesa


MOSCOU (AFP) — A lâmina da guilhotina se abate com um ruído surdo, a multidão dança freneticamente e avança, ameaçante, enquanto um jovem camponês chora sua bem-amada decapitada, filha do marquês: o Bolshoi retomou um balé soviético sobre a Revolução Francesa (que completa 219 anos nesta segunda-feira), numa versão expurgada de conotações ideológicas.
Intitulado "La Flamme de Paris", A chama de Paris, encenado pela primeira vez em 1932, laureado 15 anos mais tarde com o prêmio Stalin - nome do ditador soviético que o apreciava particularmente -, é também célebre por seu final: uma marcha impressionante na qual os participantes visam a platéia com armas estranhas.
Assim, se este balé glorifica a origem da Revolução e o povo rebelado, esta nova versão é hoje o reflexo de sentimentos ambivalentes sobre o assunto tratado.
O libreto, inspirado no romance de Félix Gras "Les Rouges du Midi", não se atém mais à "história do povo revolucionário derrubando os aristocratas, mas o drama amoroso de pessoas presas no turbilhão dos acontecimentos históricos", explica Alexeï Ratmanski, diretor artístico do Bolshoi e que assina este novo espetáculo.
O cenário deve-se a uma nostalgia da velha cultura do século XVIII, a cargo de Ilia Outkine.
As 300 vestimentas históricas transformam os 140 artistas - toda a trupe do Bolshoi - em camponeses, rebeldes, aristocratas.
Apesar de todas as transformações sofridas pelo libreto, o espetáculo nada perde do dinamismo. As danças do povo revolucionário são tão inflamadas que o assalto ao castelo de Versalhes e o grande incêndio final parecem uma seqüência lógica.
E o drama das jovens vidas ceifadas pela revolução se mistura ao triunfo dos insurgentes.
O Ballet Bolshoi, a Companhia do Grande Teatro Acadêmico para Ópera e Balé de Moscou, teria começado em 1773 quando um grupo de bailarinos - meninos e meninas carentes - freqüentava aulas ministradas num orfanato de Moscou, numa época em que a capital ainda era Leningrado.
A sede atual do Teatro Bolshoi é tombada pela Organização das Nações Unidas como Patrimônio Arquitetônico e Cultural da Humanidade.
No início do século XX, dirigido por A. Gorski (1878 a 1924), o Bolshoi buscava uma nova identidade. Com a capital do país saindo de Leningrado e vindo para Moscou a companhia começa a receber maior incentivo do governo, podendo investir em seus talentos e pagar por aqueles formados pela Escola do Ballet Kirov, que passou a ter o mérito de formadora técnica e estilo impecável, enquanto que o Bolshoi torna-se famoso pela projeção de grandes estrelas, dando vitalidade ao balé russo. (Reprodução AFP)

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