terça-feira, 15 de julho de 2008

Variação demais!

Você já parou para pensar o motivo de o balé Paquita (1847) ter tantos solos seguidos um atrás do outro? Reparando bem, nenhum outro balé tem tantas variações encarrilhadas assim (tá, A Bela Adormecida tem uma porção, mas é exceção!)

Antes de investigar a razão, é preciso entender a história da construção dessa obra de repertório. A coreografia original de Paquita pertence a Joseph Mazilier (sobre a música de Edouard Delvedez). No entanto, em 1881, Marius Petipa enxertou novos trechos ao ballet utilizando músicas de Minkus. Esses pedaços equivalem justamente à parte mais conhecida, dançada em galas: o Grand Pas-de-deux. A cada remontagem, era comum fazer acréscimos à coreografia.

No entanto, a enxurrada de solos de Paquita nasceu por conta de uma bailarina de personalidade fortíssima. Mathilde Kschessinskaya foi a primeira russa a alcançar os 32 fouettés da italiana Pierina Legnani. Por conta de seu virtuosismo, tornou-se primeira-bailarina absoluta do Ballet Imperial na virada do século XIX para o XX. Um belo dia, Mathilde estava escalada para dançar o Grand Pas de Paquita em uma gala de homenagem à ex-imperatriz russa Catarina, a Grande. Daí que ela teve a idéia de pedir para as suas companheiras bailarinas também participassem, fazendo com que cada uma dançasse a sua variação favorita mesmo se ela pertencesse a outros balés.

Assim começou a tradição de apresentar uma suíte inteira de variações no meio do Grand Pas. É por isso que se vê, por exemplo, gente dançando o cupido de Dom Quixote no meio de Paquita. Coincidentemente, essa coreografia utiliza música de Minkus. No entanto, há outros solos que passam longe tanto da música dele quanto da de Delvedez, já que foram extraídas de balés que não têm nada a ver com a concepção original de Mazilier. Só para ter uma idéia, existe aí música de Nikolai Tcherepnin, Riccardo Drigo, Adolphe Adam e a gente dança tudo isso sem nem ter idéia da origem delas! Essa informação gera curiosidades como a que coloca a origem da variação da própria Paquita na reconstrução de Petipa para La Sylphide (1892) em cima da músiva de Drigo.

O grande barato é que alguns desses solos representam hoje o único vínculo do presente com alguns balés coreografados no século XIX que se perderam no tempo, fazendo dessas peças verdadeiros tesouros históricos. Inclui-se, aí, variações de balés perdidos do próprio Petipa, como Les Aventures de Pélée (1876), La Naïade et le Pêcheur (1892) e La Camargo (1901). As informações são do ex-bailarino e pesquisador Lopez e podem ser encontradas neste site.

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