Ditadura, semitismo, ritual, massa e pop rock são palavras que se
aglomeram em torno do trabalho mais recente do coreógrafo israelense Hofesh
Shechter. “Political Mother”, que foi apresentado no último fim de semana na
14ª Bienal de Dança de Lyon, é uma bomba de informações sobre a condição
política do homem contemporâneo.
Estabelecendo uma ponte direta entre passado e presente, o trabalho tem
arrastado comentários positivos tanto de público quanto de crítica.
A hecatombe provocada por Shechter é anunciada antes mesmo do início da
peça. Na entrada da sala, recebe-se um par de tampões de ouvido: prenúncio de
que o que viria faria muito, muito barulho.
A trilha, composta com participação do coreógrafo, é posta no volume
máximo. Nela, uma música de base, parecida com as tradicionais judaicas, é
sobreposta por marchas militares e rock and roll tocados ao vivo, com músicos
no próprio palco.
Ao fundo, dois bailarinos se alternam ora no papel de líder de banda
rock, ora no de um ditador aos moldes de Adolf Hitler. Enquanto isso, outros
tantos tomam o palco numa dança frenética, com movimentos propositalmente
cheios de afetações.
A cenografia é carregada, predominantemente escura, coberta de fumaça, com
raras aberturas de luz. Todos esses elementos contribuem para uma rica experiência
auditiva e visual que empurra inevitavelmente o público para dentro da cena,
criando uma atmosfera cativante, principalmente para os mais jovens.
Shechter se aproveita dessa captura para propor uma reflexão sobre a
dificuldade da coexistência e os riscos da intransigência política e cultural,
num ritmo quem mantém uma tensão de arrepiar.
É um espetáculo por vezes excessivo, que talvez ganhasse mais força caso
melhor editado. Mas o saldo é positivo e impressionou o público lionês após uma
estreia de sucesso, em maio, na Inglaterra.
Apesar de ter nascido em Jerusalém e ter integrado a tradicional
companhia Batsheva, o coreógrafo reside em Londres desde 2002, onde trabalha
com o grupo que leva seu nome. “Uprising”, criada em 2006, é o marco que o fez
ser apontado como novo “cometa” da dança contemporânea.
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