Cena de "GEN", de Cassilene Abranches | Crédito: Divulgação |
Rafael Gomes à frente do elenco de "Bingo!" | Crédito: Silvia Machado/Divulgação |
Cena de "GEN", de Cassilene Abranches | Crédito: Divulgação |
Rafael Gomes à frente do elenco de "Bingo!" | Crédito: Silvia Machado/Divulgação |
Kelly Bishop (esq.) e Sutton Foster vivem sogra e nora em "Bunheads" | Divulgação |
Em primeiro plano, da esq. para a dir., Julia Goldani Telles, Bailey Buntain, Emma Dumont e Kaitlyn Jenkins | Divulgação |
por Amanda Queirós
Como foi passar também a coreografar?
Essa foi uma decisão muito estressante, apesar de, nos últimos anos, eu ter trabalhado com coreógrafos diferentes que me deixavam improvisar bastante. Mas assumir uma produção inteira e tomar todas as decisões sozinha parecia algo muito grande. Esses trabalhos me deram um pouco mais de confiança. O que percebi é que você nunca está tão só, porque sempre há pessoas dando tudo o que podem para você. Ainda é algo estressante, mas porque exijo o mesmo que exijo de mim como bailarina. Para mim, não há uma fronteira tão drástica entre um [ofício] e outro.
De que forma a cor azul, que batiza “So Blue”, mexe com você?
Adoro cores, apesar de o preto ser sempre predominante em minhas danças porque tenho essa ideia boba de que preto é revolução, contestação. No meio da dança contemporânea em que me insiro a moda é não dançar, mas às vezes ela se torna muito intelectual. Já eu quero sempre explorar os limites do corpo. Então, minha primeira ideia para essa peça era que ela seria intensa e preta, algo na linha “Back to Black”. Ao longo do processo improvisei muito e surgiram outras camadas que não combinavam mais com preto. Percebi como eu era cheia de contradições e oposições. Foi quando o azul me chegou como algo mais abrangente e adequado para representar isso. Não é uma ideia do azul como o [gênero musical] blues, é pela cor em si, algo muito leve e profundo ao mesmo tempo. O que senti no estúdio é que há algo de leve no dançar.
É curioso você destacar a leveza, já que sua dança é conhecida justamente por ser bem intensa e esses aspectos, em geral, são vistos como opostos.
Mas não são! As coisas podem ser inclusivas. Tentam fingir que o balé é leve e delicado, quando, na verdade, é extremamente difícil. Não gosto dessa falsa mensagem. O que danço não é algo sem leveza. É uma luta pela vida com todas as dificuldades que encontramos pelo caminho e que estão dentro de nós. E essa é uma jornada que pode ser leve. Não quero apenas representar isso. Eu quero viver isso.
No último ano você recebeu prêmios como melhor bailarina, 30 anos depois de já ter feito coisas bem radicais. Como você percebe a evolução do seu corpo?
Não sei... Não confio nos números. O que eu vejo é uma incrível boa forma. Quando eu estava com 25 anos, pensava que talvez no futuro eu estivesse diferente. Mas minha mente ainda é a mesma, ela continua livre, aberta, curiosa, insatisfeita, intranquila. Sei que é surpreendente. Você não é a primeira a me falar isso. Mas falta-me ainda entender tanta coisa! Sinto-me completamente viva e estou lutando e descobrindo coisas novas todos os dias. Muita gente se deixa acomodar por palavras, ideias, repetições. Já eu, quanto mais vejo algo, mais enxergo opções e aberturas. É por isso que ainda danço, porque ainda sou fascinada pelo que o movimento pode evocar, pelo que posso aprender ao me colocar diariamente em uma situação física e criativa. Também se deve levar em conta que tudo o que eu fiz nos anos 1980, sempre no meu máximo, me levou ao que faço agora. Talvez não fosse assim se eu tivesse dançado de uma forma mais tranquila, apenas com meu talento, quando era jovem. Só que eu não dançava com meu talento, dançava com minha coragem – e ainda danço com ela.
Em que ponto você percebeu que era hora por fim à parceria com Édouard Lock e ir adiante?
É difícil resumir... Para mim, o jeito como Édouard se move, e o que ele coreografa para outras pessoas, é extremamente pessoal e original. Eu já havia dançado em duas companhias em Montreal, estudado em Nova York, visto algumas coisas e começado a ter minha própria ideia do que queria fazer enquanto dança: algo mais próprio do meu tempo e que falasse com todo tipo de gente. Percebi que o trabalho dele era próximo de mim e por isso o achei tão incrível. Foi um período fantástico e eu poderia ter feito isso para sempre. Saí porque ele foi para outra direção, para o balé e as sapatilhas de ponta. Pensei que poderia lidar com isso, e por um tempo eu pude, mas não havia muito o que intercambiar com os outros bailarinos. Eu estava meio solitária e achei que precisava evoluir em outra direção. Na época eu também estava seriamente machucada, com um problema enorme no quadril, o que comprometia as turnês. Eram fatores com os quais eu não podia lidar mais. Pensei que, se eu fizesse pequenos projetos, seria responsável apenas por mim mesma e faria as regras de forma mais condizente com o que eu havia me tornado.
Você trabalhou com David Bowie na turnê Sound+Vision, de 1990. Como foi a experiência de dividir o palco com ele?
Foi fantástico, pareceu uma grande folga. Eu dançava cinco minutos com ele no palco, o resto era em vídeo, apresentado enquanto ele tocava. Mas sabe de uma coisa? Quando entro no estúdio para trabalhar com qualquer pessoa, somos apenas dois seres humanos com algo para fazer. Essa zona neutra é o melhor lugar para se estar com alguém. Eu me apaixonei por David assim que o conheci. Não tenho como descrevê-lo em apenas uma palavra. Ele é um grande artista e essa foi uma grande oportunidade. E eu me tornei amiga dele. Afinal, você não pode ser distante de alguém com quem você dança.
Cartaz das ações do Festival | Crédito: Reprodução |
Companhia de Akram Kahn em "iTMOi" | Crédito: John Ross/Divulgação |
Bailarina apresenta vigor em "So Blue" | Crédito: André Cornellieur/Divulgação |
Cena de "4", criação de Tao Ye | Crédito: Fan Xi/Divulgação |
Bailarinos da Focus em "Ímpar" | Crédito: Divulgação |
Batsheva Ensemble tem bailarinos com idades entre 18 e 27 anos | Crédito: Gadi Dagon/Divulgação |
O que será que a massa que ocupará o Anhangabaú vai achar de "Cantata", do Balé da Cidade? | Crédito: Sylvia Masini/Divulgação |
Sandro Borelli recebeu uma indicação pelo espetáculo "Colônia Penal" |