terça-feira, 25 de abril de 2006

Dançando na Rota do Sol

É possível notar indícios de modificação no cenário da dança cearense: criação de editais, exposições, mostras e festivais e aumento no número de companhias e de organizações de classe

Júlia Cândida

Ventos, jangadas, velas brancas sobre o verde do mar nos levam, nos próximos dias, ao Litoral Oeste cearense, pois eventos e mostras de dança em Fortaleza já não são suficientes para responder às produções de nosso Estado.

O Colégio de Dança, um dos muitos frutos da Bienal Internacional de Dança do Ceará, pode ser visto como ponto de partida por delinear um complexo painel de mudanças e descobertas nos corpos dançantes locais.

Buscar a compreensão da produção na área de dança no interior cearense é direcionar-se às motivações que desencadearam essas transformações. Certamente foram muitas.

Há bem pouco tempo, as referências de grupos ou companhias estavam centradas em Fortaleza, exceto os grupos voltados à cultura popular, que através das tradições e lendas conseguiram se manter nesses espaços que tanto valorizam essas manifestações.

Retrato da era da tecnologia e da comunicação, a dança cênica cearense apresenta-se hoje com uma dinâmica marcada por algumas alterações.

A linha divisória entre o que foi conservado e alterado é confusa, mas permite uma análise comparativa. Continua a condição dominada no cenário nacional, mas, algumas ações possibilitaram conquistas de uma política cultural para a dança, proporcionando aumento de produção e circulação. É possível notar indícios de modificação no cenário da dança cearense: criação de editais, exposições, mostras e festivais e aumento no número de companhias e de organizações de classe. Mudanças de políticas públicas culturais podem ter contribuído para que as ações da Secretaria de Cultura do Ceará se estendessem a várias regiões do Estado, democratizando o acesso aos recursos do fundo estadual de cultura.

Tais mudanças têm incitado o interesse em fomentar o exercício reflexivo para a criação de uma consciência crítica sobre a necessidade de ampliação dos conhecimentos da dança para além de sua prática. Após esforços de bailarinos, coreógrafos e professores, hoje, existe no Estado do Ceará um curso de formação técnica em dança, que veio preencher a lacuna deixada pelo Colégio de Dança.

Também o surgimento da Cia. de Dança de Paracuru, por iniciativa e direção de Flávio Sampaio, que há mais de cinco anos pesquisa, monta e circula dança, deve ter servido de referência a tantos outros grupos de cidades circunvizinhas.

Não só o litoral foi contagiado pela dança. O sertão também teve sua participação. Sem desmerecer as outras cidades cearenses, os municípios de Paracuru, Trairi, Itapipoca, Beberibe, Tabuleiro do Norte, Uruburetama, Paraipaba e Guaramiranga têm hoje um novo olhar para a dança, transformação ocasionada em função da atuação de suas companhias.

Com abertura em Fortaleza, ocorrida ontem, o Festival de Dança do Litoral Oeste acontece no interior do Estado a partir de hoje, indo até o dia 30 de abril trabalhando diversas linguagens e com extensa programação: oficinas de dança, mostras de vídeos mesas redondas e espetáculos.

Além de oportunizar diversos nomes da dança cearense, o Festival terá participação de grandes personalidades: Paulo Caldas (bailarino e coreógrafo da Staccato Companhia de Dança), Steven Harper (coreógrafo americano), Julie Nioche (coreógrafa francesa) e Leonel Brum (pesquisador e diretor artístico dos eventos Dança Brasil e Dança em Foco).

JÚLIA CÂNDIDA SOARES MENEZES é professora e pesquisadora

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