terça-feira, 25 de abril de 2006

A vocação artística do Litoral Leste

O Festival de Dança Litoral Oeste foi concebido de forma compartilhada, objetivando contemplar as diversas necessidades dos distintos contextos nos quais se insere

Cláudia Leitão

A dança cênica cearense tem experimentado nos últimos dez anos um processo de desenvolvimento e projeção sem precedentes em sua história. A articulação de ações sinérgicas - como a Bienal de Dança do Ceará, o Colégio de Dança, o Festival Nacional de Dança de Fortaleza (Fendafor), a criação da Prodança e do Fórum de Dança do Ceará - teve papel central na configuração desse novo cenário.

Se, por um lado, o resultado dessas ações pôde transparecer predominantemente na capital, em outras regiões do Ceará iniciativas singulares e reverberações das ações acima mencionadas ajudaram a constituir cenários diferenciados.

Fundados em contextos distintos daqueles da cidade de Fortaleza, projetos localizados em outros municípios do Estado foram tomando forma, força e consistência, até serem incorporados por coletividades. Tal vocação artística se comprovou na prática no Litoral Oeste do Estado, mais especificamente na região do Vale do Curu. No local, formou-se uma sólida rede intermunicipal de agentes culturais, trabalhando conjuntamente em prol de uma linguagem artística - a dança.

A força e a qualidade dessas iniciativas, assim como o pioneirismo e o empreendedorismo de seus protagonistas, foram fatores decisivos para a visibilidade e o conseqüente reconhecimento do trabalho realizado pela dança na região. E foi percebendo a vocação para essa linguagem artística, assim como a demanda legítima da região por ações que potencializassem o desenvolvimento da dança e servissem como plataforma de apoio para as atividades ali desenvolvidas, que a Secretaria da Cultura do Estado (Secult) elegeu o Vale do Curu para sediar mais um Evento Estruturante dentro de sua política de Valorização das Culturas Regionais.

Das manifestações tradicionais à dança contemporânea, as cidades de Paracuru, Trairi e Itapipoca, localizadas no Litoral Oeste, vão mostrar ao público as diferentes texturas corporais e linhas de pensamento que têm inspirado o trabalho de artistas e companhias locais, nordestinas, brasileiras e até mesmo do exterior. De 25 a 30 de abril, os três municípios sediarão espetáculos, oficinas, residências, mostra de vídeos, palestras e conversas com profissionais na programação do Festival de Dança Litoral Oeste.

Fazendo jus ao caráter coletivo das ações que deram origem a essa demanda, o Festival de Dança Litoral Oeste foi concebido de forma compartilhada, objetivando contemplar as diversas necessidades dos distintos contextos nos quais se insere. Dessa forma, toda a programação artística e pedagógica foi formatada de maneira a atender expectativas e características não só dos municípios sede do evento, mas também da região e do Ceará de forma geral. Dos mestres das danças tradicionais populares do Ceará a importantes nomes da dança cênica nacional e internacional, o Festival pretende ser um espaço de convergência entre dança e público de distintos contextos. O mesmo se pode dizer das oficinas, que foram formatadas de acordo com a solicitação de cada cidade. As palestras e os debates discutirão questões de ordem estética e política, sejam elas de alcance local, nacional ou internacional, relativas à dança cênica e aos profissionais que atuam na área.

O Festival de Dança Litoral Oeste apresenta-se, portanto, como mais um Evento Estruturante da Secult, que tem o objetivo de dotar as macrorregiões do Ceará de uma estrutura de desenvolvimento cultural local, contribuindo com o aprimoramento das linguagens artísticas, com a organização do setor produtivo cultural e com a geração de oportunidade de negócios direta ou indiretamente associados à arte e à cultura. Atualmente, já são dez os eventos estruturantes realizados ou apoiados pela Secult em todo o Estado, como o Festival Música da Ibiapaba, Encontro Mestres do Mundo - no Vale do Jaguaribe, e o Festival dos Inhamuns - Circo Bonecos e Artes de Rua, dentre outros. O Festival integra também a programação dos 40 anos da Secult, a primeira Secretaria de Cultura do Brasil.

CLÁUDIA LEITÃO é secretária da Cultura do Estado do Ceará.

Nenhum comentário:

Postar um comentário