sábado, 15 de abril de 2006

A Filha do Faraó - Comentários

A primeira vez em que eu ouvi falar desse balé foi em fotologs que mostravam as fotos da belíssima Svetlana Zhakarova dançando o papel-título. Eu pensava que quem postava estava mal informado! Como uma balé tão grandioso conseguiu se perder no tempo desse jeito? Mesmo com a lógica do meu argumento, eu realmente estava enganada...

No ano 2000, tentaram reparar o erro e, a pedidos do Ballet Bolshoi, A Filha do Faraó foi remontado pelo coreógrafo francês Pierre Lacotte, que aparentemente se especializou em "ressuscitar" balés (ele fez esse mesmo trabalho com Paquita e La Sylphide no Paris Opera Ballet). A partir da notação deixada por Petipa, ele reconstruiu a coreografia. No entanto, a maior parte do que se vê hoje no palco não faz parte do trabalho original de 1862 do maître de balé. Apenas as variações dos rios, no segundo ato, mantiveram-se intactas. Todo o resto sofreu a intervenção de Lacotte, que cortou muitas das cenas de mímica responsáveis pela longa duração do espetáculo.

Em 2003, A Filha do Faraó foi finalmente levado aos palcos do Ballet Bolshoi 141 anos após sua estréia no Ballet Kirov. Acho que a suntuosidade é a principal marca dessa nova produção. Há variadas trocas de cenários, muitíssimos figurantes e um guarda-roupa invejável para a personagem Aspicia, que troca de figurino umas seis, sete vezes durante todo o espetáculo. O enredo é bobinho e, em alguns momentos, lembra de leve La Bayadère, mas está longe de ter a densidade dramática deste. A música influi muito para isso. O compositor Cesar Pugni (também autor das melodias de La Esmeralda e Diana e Acteon) não tem a genialidade de Minkus. Este carrega em sua partitura toda a emoção das cenas. O mesmo não acontece com a de Pugni. Com isso, as cenas parecem puro pastiche.

No entanto, talvez A Filha do Faraó deva ser visto com outros olhos. Ao invés da dramaticidade, priorizou-se as coreografias, ricas e bem montadas para cada cena do enredo. Lacotte caprichou nesse aspecto. Tanto é que, provavelmente em breve, essas variações devam começar a pipocar em festivais de dança de todo o país, demonstrando virtuosidade e novidade nesses espaços.

Curiosidades

A Filha do Faraó fez grande sucesso na Rússia pelo menos até cinqüenta anos depois de sua estréia em 1862. Foi um dos primeiros balés de repertório de Petipa. No entanto, apesar disso, ele foi retirado dos repertórios por determinação do governo soviético, que, aparentemente, não gostava de um subtema do balé: o poder autocrático dos faraós.

A encenação conta com algumas participações pitorescas, como a de um macaco e de uma cobra gigante. Quando George Balanchine ainda estudava na escola do Teatro Mariinsky, ele foi o responsável pela interpretação do macaquinho. É um exemplo de que todos nós realmente temos que pagar algum mico até chegar um pouco mais lá em cima... =)


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