terça-feira, 25 de abril de 2006

A militância da dança no Vale do Curu

A princípio o trabalho com a dança em nossa região, especificamente o trabalho desenvolvido pela Cia Ballet Baião em Itapipoca, sofreu preconceito e não acolhimento do público

Gerson Carlos

A trajetória dos grupos e companhias de dança de nossa região teve seu início na década de noventa, dentro das organizações populares articuladas pelas pastorais sociais da Diocese de Itapipoca.

Com a criação do Marca (Movimento de Artistas da Caminhada) idealizado por Zé Vicente e Babi Fonteles, foi possível integrarmos diversos grupos de artistas das áreas de música, artes plásticas, teatro e dança em um só movimento. Nesse bojo surgiu em Itapipoca a Aarti (Associação de Artes Cênicas de Itapipoca) e dentro dela a Cia de Dança Contemporânea Ballet Baião, que acabou se tornando a primeira referência de Dança Cênica para as demais cidades do Litoral Oeste.

Através do Aconchegão de Arte-Vida (Encontro Anual dos Artistas e Produtores do Vale do Curu) a Cia Ballet Baião começou a expor seus espetáculos e ministrar oficinas de dança que por conseqüência geraram novos grupos (núcleos de dança) em muitas cidades, destacando Trairi, Uruburetama, Paraipaba, Amontada, São Gonçalo do Amarante, Itarema, Tejuçuoca, Itapajé, Miraíma, dentre outras.

A princípio o trabalho com a dança em nossa região, especificamente o trabalho desenvolvido pela Cia Ballet Baião em Itapipoca, sofreu preconceito e não acolhimento do público. Por conta da persistência dos bailarinos se conquistou pouco a pouco espaço e apoio da sociedade Itapipoquense, tanto para a exposição e produção dos espetáculos da cia, como também para o favorecimento do ensino e vivência da dança contemporânea dentro de projetos socais que contemplam crianças e adolescentes dos bairros periféricos de Itapipoca, tais como o AABB comunidade (Banco do Brasil e Prefeitura Municipal), Projeto Arteculando (Secretaria de Educação), ABC Padrão e Pólo de Atendimento (Ação Social), Acafi e Soprafi (Fundo Cristão para crianças e adolescentes). Outro campo que tende a se expandir é a Escola Pública, cada vez mais aberta para formação de grupos de dança via projetos pedagógicos locais, ou via projetos financiados pelo governo estadual e federal.

Atualmente, os componentes do Ballet Baião além de terem formação técnica em dança, são também formados em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), e desenvolvem paralelamente aos espetáculos da companhia, trabalhos voluntários focando o ensino da dança como via de inclusão e construção da cidadania. Hoje temos uma Escola de Dança que acompanha 50 adolescentes dos bairros da cidade com aulas semanais de dança contemporânea, dança moderna, balé clássico, danças tradicionais populares, teatro, criação literária, artes plásticas e temas transversais são discutidos através de palestras e vídeos educativos.

Gostaríamos de poder ampliar essa escola, porém são muitas as carências que dificultam essa possibilidade. Estamos ''correndo atrás'' elaborando projetos e enviando para empresas a fim de qualificar esse trabalho no que diz respeito à estrutura física e material didático. Nosso grande anseio é de conseguir um terreno para construirmos uma sede própria.

O I Festival de Dança Litoral Oeste, além de ser espaço favorável para a mostra das produções de dança local, estadual, nacional e internacional (intercâmbio que vai quebrar fronteiras), também garantirá a discussão de políticas para a dança do Ceará, pensando que mostras e festivais são eventos importantíssimos para a categoria, mas que é preciso fomentar estratégias de ação permanente no intuito de que os grupos e companhias de dança sobrevivam com dignidade, circulando com seus espetáculos e ampliando seus projetos sociais, tanto na capital como no interior cearense.

GERSON CARLOS MATIAS DE SOUZA é bailarino, coreógrafo, professor de dança, pedagogo, arte-educador e Diretor Artístico da Associação de Artes Cênicas de Itapipoca (Aarti).

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