quinta-feira, 27 de abril de 2006

A Biografia de Thiago Soares (Royal Ballet)

Aos 11 anos, Thiago Soares começou a dançar em um grupo de street dance, em Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro. Aos 15, procurou o Centro de Danças Rio para ter aulas de jazz. Queria se aperfeiçoar na dança de rua. Ao assisti-lo nas primeiras aulas, Débora Bastos, professora da escola, não teve dúvidas: ele tinha tudo para se tornar um grande bailarino clássico. Por isso, avisou que só o aceitaria como aluno se também fizesse balé. No entanto, ela teve que lidar com o preconceito do rapaz. Apresentou-lhe um vídeo com performances do bailarino Fernando Bujones. Thiago ficou maravilhado. Daí para frente, começou a batalhar e se apaixonou de vez por essa arte. Conheceu então Mariza Estrella e Angélica Fiorani, que acreditaram no potencial dele e o fizeram assumir a dança profissionalmente.

Foi essa decisão que determinou o sucesso meteórico de Soares. Em 1998, ele conquistou a medalha de prata no Concurso Internacional de Dança de Paris ao dançar os solos de Dom Quixote, O Lago dos Cisnes e O Corsário. Com a medalha, Thiago foi convidado a integrar a companhia Le Jeune Balle, da França, mas foi orientado a retornar ao Brasil para completar os estudos antes de partir mundo afora. Melhor para ele: de volta para casa, foi convidado a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Na ocasião, ele já tinha 18 anos.

Seu talento foi logo reconhecido e ele passou a receber também papéis de solista. No ano seguinte, já incorporava os papéis principais de balés como O Lago dos Cisnes, Giselle, Dom Quixote, Coppélia e La Bayadère. Em 2001, Roberta Marquez e ele participaram do Concurso Internacional de Moscou dançando os pas-de-deux do terceiro ato de La Bayadère, do Cisne Negro, Diana e Acteon. Thiago conquistou a cobiçada medalha de ouro. Marquez ficou com a de prata, o que o bailarino considerou injustiça. Os dois ainda receberam menção honrosa como melhor dueto com a coreografia Capricho, de Tíndaro Silvano.

A partir daí, a carreira internacional de Soares começou a decolar. Logo após o concurso, ele conseguiu um feito histórico: foi convidado pelo Kirov Ballet para integrar o seu quadro de aprendizes durante um ano. Em cem anos de história, ele foi o segundo bailarino estrangeiro a integrar a rígida companhia. O primeiro foi o cubano Jose Manuel Carreño, que hoje o American Ballet Theater. Durante o período, ele integrou a turnê do Ballet Público de Moscou.

Apesar de ter aceitado o convite, Thiago não agüentou muito tempo. Havia dificuldades com a língua e a cultura. Cinco meses depois, em 2002, ele retornou ao Brasil e encarnou o papel principal da versão de Romeu e Julieta montada por Vassiliev para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A partir daí, ele foi aconselhado a tentar uma audição para o Royal Ballet.

Naquele momento, a companhia precisava de bailarinos altos para acompanharem as bailarinas de mesma estatura. Deu para Thiago: após se apresentar para Monica Mason, a diretora artística do Royal, ele conseguiu um contrato para começar a atuar por lá a partir de setembro de 2002.

Demorou para que ele subisse ao palco. Quando o fez, eram papéis pequenos. Mas Thiago agarrava cada um deles com afinco, estudando todos os elementos necessários para fazer daquela parte a melhor possível. A grande oportunidade surgiu quando Natalia Makarova foi convocada para montar A Bela Adormecida para a companhia. A diva já conhecia o bailarino da época em que veio ao Brasil montar La Bayadère, e o colocou para interpretar Carabosse, a fada má. Era um papel dificílimo para alguém tão novo, mas não foi uma aposta errada. Thiago o desempenhou com sucesso e ainda ganhou a possibilidade de encenar o Príncipe Florimundo com a bailarina Tamara Rojo.

Dessa forma, pouco a pouco, ele foi conquistando seu espaço na companhia. Em 2004, foi promovido a primeiro-solista e começou a atuar frequentemente em papéis principais. Nesse mesmo ano, aos 22 de idade, recebeu o prêmio de artista revelação masculino de dança clássica, conferido pela Associação dos Críticos Internacionais de Dança, que o destacou como “detentor de uma técnica poderosa e refinada” e também um excelente ator, características responsáveis pela sua magnífica presença de palco. A interpretação do papel-título de Onegin, coreografado por John Cranko, parece ter sido a síntese ideal de todas as qualidades do bailarino para que ele recebesse o prêmio.

Hoje, Soares continua no Royal desempenhando papéis importantes com a mesma determinação do começo da carreira. Suas interpretações têm feito grande sucesso entre a sisuda crítica de dança britânica. Após uma apresentação do bailarino com Svetlana Zakharova, no Rio de Janeiro, Eliana Caminada comentou: “Como pode um rapaz de sua idade assumir tamanha responsabilidade, compreender tão bem como se comporta um bailarino nobre? Soares é nobre como figura, como interior e como qualidade de dança; nenhuma concessão aparece em sua técnica pura, na escola que denota sua iniciação bem feita.” São esses elementos, responsabilidade e profissionalismo, que fazem de Thiago Soares uma das maiores estrelas atuais da dança clássica brasileira. Que ele sirva de modelo e inspiração para tantos outros.

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